Header Ads Widget

Documentário Mães do Hip Hop.

Cinco cantores de rap do Morro Agudo, em Nova Iguaçu (Baixada Fluminense), tiveram uma ideia diferente: contar as suas vidas pelos depoimentos das mães. Assim nasceu o documentário Mães do Hip Hop.

Através delas, o filme faz uma panorâmica social da juventude na Baixada Fluminense e mostra o papel do hip hop na transformação da vida desses jovens. O pré-lançamento aconteceu ontem Espaço Enraizados, durante um evento em homenagem ao Dia das Mães.

O documentário também tem lançamento previsto em Nancy e Blanc Mesnil (França) e, provavelmente, em Rotterdam (Holanda), nos próximos meses.

Além das mães dos rappers, participam do filme Jana Guinond, atriz; Dedé Barbosa, um morador do bairro desde que nasceu, cujo filho foi vítima da violência; e o sociólogo Luiz Eduardo Soares.

As mães dos MCs Leo da XIII, Átomo, Kall, Lisa e Dudu do Morro Agudo enfrentaram dificuldades financeiras, a quase total ausência de serviços públicos e problemas com a violência, dentro e fora de casa, para criarem os futuros rappers.

Três deles quase não nasceram para contar a história.

Dona Evanil, mãe do MC Átomo, conta que teve seu filho confundido com um mioma (tipo de câncer) quando estava grávida. Mesmo quando foi ter o filho, os médicos reafirmaram que ela tinha um câncer, e não um bebê.

D. Evanil teve gravidez confundida com câncer

D. Evanil teve gravidez confundida com câncer

O marido de Giselda, mãe de Leo da XIII, tinha problemas com bebida. O vício impediu que ele a acompanhasse para o hospital, no momento de dar a luz. Sem acesso a transporte público, ela teve que andar três quilômetros até o hospital. Quando chegou lá, os médicos disseram que não havia leitos e por pouco ela não tem o bebê no corredor.

“A saúde pública aqui é uma parada muito precária”, conta Dudu do Morro Agudo, diretor do filme. Ele mesmo quase não veio ao mundo. Sua mãe, D. Lúcia, chegou a pensar em abortar o filho.

Conseguir nascer seguramente não foi o único obstáculo enfrentado pelos cinco rappers. A ausência das mães, que passavam o dia todo longe, trabalhando pelo sustento da família, também foi muito marcante.

- Aqui no morro, as mães não participam da criação do filho. Elas têm que trabalhar pelo sustento. O filho é criado pela rua. E é normal aqui sair para comprar pão e encontrar gente porta na rua. Enquanto a mãe está trabalhando, a droga circula nas ruas - conta Dudu.

O hip hop foi um caminho alternativo ao ambiente de drogas e violência para Leo da XIII, Átomo, Kall, Lisa e Dudu do Morro Agudo. “O hip hop nos deu a capacidade de escolher”, explica Dudu.

Giselda andou 3km para ter o bebê

Giselda andou 3km para ter o bebê

Mas ainda tinha o preconceito. Era difícil a comunidade aceitar um movimento musical feito por negros.

- Todos os MCs são negros. Tem discriminação racial mesmo aqui. A molecada tem uma auto-estima muito baixa. Tudo que é branco é bom; preto não presta - diz o diretor do documentário.

O preconceito se estendia às mães dos rappers. “Para mim, hip hop era coisa de bandido”, dizia Dona Lúcia. A opinião, entretanto, mudou quando D. Lúcia percebeu que a música promovia não a proximidade, mas o afastamento das drogas e da violência.

- Até hoje, se você perguntar para elas, as mães não sabem dizer o que hip hop. Mas apoiam. Só que elas não apoiam o hip hop pelo macro, pelas causas por que lutamos. Elas apoiam porque pensam: “o hip hop vai salvar o meu filho” - explica Dudu do Morro Agudo.

O apoio das mães aos filhos rappers gerou uma situação curiosa: a presença delas nos shows. “Eu acho super-maneiro, mas tem cara que não gosta porque tem vergonha”, admite Dudu.

Mas embora já aceitem o hip hop e reconheçam valor nele, as mães ainda não o consideram uma boa opção profissional.

- Ela diz que “queria que o filho fosse outra parada”. Minha mãe queria mesmo era que eu fosse da farda. Para elas, ter profissão é carteira assinada. Não enxergam muito futuro no hip hop - afirma.

Assumindo a responsa

Aos 20 anos, Dudu do Morro Agudo passou para o outro lado: foi pai e teve que se virar para cuidar da filha Beatriz, hoje com nove anos.

- Não sofri mais porque tive ajuda da minha mãe e da minha sogra. Mas tive que trabalhar de carteira assinada, num lugar que não me valorizava, para poder dar um futuro maneiro para minha filha.

"Quando dei liberdade, virou pai. É esperto, é malandro? Não é"

D. Lúcia, sobre Dudu ser pai muito jovem: "Quando dei liberdade, virou pai. É esperto, é malandro? Não é"

Rindo, conta como a mãe encarou a situação:

- Minha mãe fala no filme que eu sempre quis liberdade. Todo mundo no bairro tinha liberdade. Eu nunca tive. Daí ela diz: ‘quando dei liberdade, ele virou pai. É esperto, é malandro? Não é’.

Dudu do Morro Agudo me conta também como ele e os outros quatro MCs deixaram de ser filhos e passaram a ter um papel de liderança no morro, fundando o Movimento Enraizados.

- O Enraizados hoje está presente em 17 estados e o nosso site tem 600 mil acessos por mês. Essa galera que não ia nem nascer hoje fala para esse povo todo - brinca.

Os cinco MCs, juntamente com outras pessoas do movimento, trabalham com a juventude da comunidade, tentando mostras oportunidades e novos pontos de vista. Admitem que nem sempre é fácil.

- É uma parada sofrida. Ta todo mundo andando de nike. Aí o cara pensa: “porque eu não vou andar?”. Não dá para a galera ficar nessa de consumismo e ter roupa de marca. Mas não é fácil não - desabafa Dudu.


Veja o Trailler no Documentario



By. Blog das Ruas

Postar um comentário

0 Comentários