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Opinião Periferica - Entrevista com o Lucas Vitorino #ConscienciaNegra



Ja tivemos a Cristina dos Santos e Laryssa Miranda como entrevistados e esta semana é a vez do Lucas Vitorino, um mano de 17 anos, com uma ideologia e maturidade de uma pessoa como o dobro de primavera que ele, nesta entrevista o Lucas respondeu perguntas,sobre como é ser preto e ter a pele clara,sobre temas atuais do movimento negro e politico sobre o porque é anarquista e outra fatos pertinentes, só digo uma coisa leia! porque vale muito apena.

Para começar direito, se apresente quem é Lucas Vitorino ..?

R: Opa, salve! Primeiramente gostaria de agradecer o espaço e a oportunidade de falar um pouco sobre minhas visões e vivências. Ah, o Lucas Vitorino é um cara que está em constante mudança e aprendizado, um cara que se joga literalmente com todas as suas forças naquilo que acredita. Em meios ativistas desde os 12,  anarquista, escafandrista e MC no Rap... Bem, acho que é isso.

Creio que você já passou por isto eu mesmo já passei, falo da crise de identidade, no meu caso eu não negava minha origem, mas ficava na duvida se eu era realmente preto, pois quando eu me declarava preto, sempre tinha o mimi, o questionamento a chacota tentando me diminuir, eu demorei para tirar esta "neura" da mente.
 Pelo fato do seu cabelo não ser crespo a pele não tão escura,talvez você tenha passado algo parecido, como você lidou com isto..?

R: Já ocorreu e ainda ocorre comigo constantemente. É racismo! É o fruto da ideologia de embranquecimento que nos mata diariamente, mano. O Branco não precisa se preocupar com sua identidade étnica racial, ele nasce branco, se diz branco e ninguém o questiona em relação a isso. Não existem nomenclaturas que tentem tirar a legitimidade da auto-identificação do branco, quero dizer, não existe aquilo de: "Ah, voce não é branco, é cor de leite, é cor de branquinho, é cor de queijo suiço, mussarela" Não existe isso! O cara se diz branco e já era. Mas vai eu e você tentar se afirmar negro em um país em que o racismo dito "velado" impera, os repúdios e os questionamentos vindo dos dedos brancos são imensos, doloridos e extensos, vão dizer que nós somos pardos (branco-sujo), mulato (Associação a infertilidade e proibição; Cruzamento do Cavalo com a Jumenta), Mestiço (Cruzamento entre cães de raça diferentes; vira-lata) e por ai vai. Se isso não é embranquecimento de um povo legitimamente negro, é o que? Eu costumo lidar apresentando fatos e me mostrando consciente etnicamente falando. As pessoas brancas não satisfeitas em colonizar e monopolizar tudo na sociedade, querem também te dizer o que você é ou deixa de ser. Eu já não abaixo minha cabeça mais, me auto-identifico como negro e não fico na defensiva pra ninguém que tenta me afirmar o contrário. Não contentes em nos matar com tiros, eles querem nos matar tirando nossa identidade. Uma pessoa que não pode afirmar sua identidade é uma pessoa morta, mano. E normalmente quem mata e quem tira a identidade é esse sistema e essa classe branca opressora. Eu me sentia morto, queria estar com as pessoas pretas, mas não podia, o branco que me dizia que não... O branco me dizia que ser negro é um crime. Eles segregam porque unidos eles estão ligados que incorporamos Dandara, Zumbi e cada integrante dxs Panteras Negras.

Transito por alguns grupos e comunidade voltado a comunidade preta, e vejo muito as pessoas usando a palavra Empoderamento, o que esta palavra representa pra você, digo dentro do contexto,social racial preto.

R:Empoderamento pra mim é toda uma resistência coletiva que emancipa seres que se veem como individuais e não como coletivos. 

É como se fosse uma ponte, vou explicar minha visão baseado na minha vivência: 

Eu era um jovem preto e periférico que não tinha consciência étnica racial e muito menos sabia que o racismo matava a mim e a minha raça. Ser pardo era mais confortável, era como se eu dissesse: "Negro? Eu? Não, sou pardo. Não quero lidar com racismo não, isso nem me afeta, nem sou tão escuro assim". Quando eu tive contato com o movimento negro, isso mudou. Começaram a questionar e me dar um choque de realidade, foi ai que então eu retomei o processo de reconstrução de identidade étnica racial, pois como diz Sérgio Vaz: "Nascer negro é consequência, ser negro é consciencia." Então, a gente pode ver que houve contato com um grupo de resistência que contribuiu na minha emancipação como individuo para um ser coletivo. Hoje eu não sou só eu, eu sou vários. Eu sou a Africa! Carrego ela em cada discurso, em cada enfrentamento, em cada soco na supremacia branca. Isso é se empoderar! É lutar em conjunto, se reconhecer historicamente e lutar contra o status quo. É ser Dandara, Zumbi, Cláudia, Rafael, entende? Essa é minha visão...

Primeiro gostaria de saber sua opinião sobre o Seriado "Sexo e as Nega"... Segundo gostaria de saber qual a sua opinião sobre o fato da AfroBras/Faculdade Zumbi dos Palmares/Troféu Raça Negra, homenagear o Miguel falabella, criador do seriado..

R: O que tenho pra falar? Isso já começou totalmente errado no nome! "Sexo e as Nega"? Numa escala de 0 a 100, o quão ofensivo isso é? O quanto que isso ainda não contribui na invisibilização da mulher negra? O quando que isso não contribui na solidão da mulher negra? O quanto que isso não contribui na associação nojenta das mulheres negras a aventuras sexuais e ao que é exótico? O quanto que isso não contribui pra dizeres nojentos, tais como "Mulata tipo exportação" continue sendo propagado? Depois partimos pra parte hierarquizada... É uma tiração né? Um branco dirigindo uma história e ainda se nomeando responsável pelo empoderamento negro? Quem são os cabeças dessa mini-série? São pessoas brancas. Quem é que manda na direção dessas mini-séries? São pessoas brancas. Enquanto o Miguel Falabella tá pagando de representante da causa negra, provavelmente tem uma mãe solteira negra limpando o camarim dele. O cara não é suburbano, não é malandro e tampouco periférico como ele diz ser. Ele é homem cis, hetero, branco e rico! Representa totalmente a classe opressora. Quem é que vai lucrar em cima disso? São pessoas negras? É um absurdo, mano. Pra gente estar falando de protagonismo, empoderamento, emancipação e representatividade, a gente tem que ver a mulher negra periférica dirigindo sua própria história, a gente tem que ver as pessoas negras contando a dura realidade e como é viver em um mundo branco. Enquanto for um homem branco quem fala como é ser mulher negra,
o status quo estará intacto.

Sobre a AfroBras/Faculdade Zumbi dos Palmares/Troféu Raça Negra, eu só tenho a lamentar. É triste ver quem é dos nossos compactuando e dando troféu pra opressor. Enquanto isso as Marias estão por ai com seus coletivos negros na quebrada, salvando moleque do tráfico, emancipando muita gente e continuando sem nenhum espaço midiático pra divulgar seus projetos e ações.

Acabei de ler seu texto Chamado "Uma heroína me salvou dessa droga de vida"  que texto lindo, ele é autobiográfico..? Falenos um pouco sobre o texto..
(Clique AQUI para ler o Texto)

R: É auto-biográfico sim. O texto é baseado em uma vivência empírica minha que questiona os nossos símbolos heroicos na sociedade. Geralmente é um simbolo paterno, nunca materno. E a referência que eu tive de "homem" na minha vida foi horrível e nojenta, ou seja, é questionável e bastante problemático essa cultura de idolatrar o "homem" como simbolo de resistência, de mudança, de superação, enfim, de tudo.

 O titulo já é pra ser impactante e bastante assustador, pois essas pessoa que salvou a minha vida, minha heroína, é invisibilizada, é marginalizada, é vista como uma droga mesmo pra essa sociedade. É mulher, negra e salvou minha vida.

Fiquei sabendo que você esta desenvolvendo um HQ (Quadrinhos) baseado neste texto, o que você pode nos adiantar sobre esta ideia..?


R: Então, encontrei dois caras que são ilustradores autônomos e joguei a ideia na mesa, eles toparam e estamos desenvolvendo isso mais afundo. A ideia a principio é que a HQ seja bem curta e que expresse o que contém no texto fielmente.

 Após a declaração da Patricia moreira que queria se engajar numa campanha anti-racismo, veio uma nota da CUFA do Rio Grande do Sul, que este garota,faria parte da ONG, mas antes ia passar por um curso, aprendendo sobre a historia do negro etc... na moral mesmo tio, qual sua opinião sobre este fato..?

R: Isso tá gerando um efeito que eu costumo denominar de "Síndrome de Patrícia". O que tem de gente branca exigindo para que nós, negros, sejamos EMPÁTICOS e DIDÁTICOS com a violência não é brincadeira. Soa como:"Me ensine a não ser racista, seu negro" Essa mina tá tendo uma assistência e cordialidade da parte de todos, mas isso não me assusta. É o que vemos todo dia: O algoz virando vitima e a vitima virando algoz. A questão é, quem ta se importando com o Aranha?


E a Postura do Aranha o que achou ..? acha que ele já fez mais do que pelé ou Anderson silva..?

R: Me surpreendi. O Aranha mostrou uma consciência negra extremamente incrível! Me encantei, me senti representado e me senti juntamente com o aranha dando tapas na supremacia branca. Pelé é o que Malcolm X costumava chamar de Negro da Casa: 


“É necessário saber que, historicamente, havia duas espécies de escravos: o negro da casa e o negro do campo. O negro da casa vivia junto do senhor, na senzala ou no sótão da casa grande. Vestia-se, comia bem e amava o senhor. Amava mais o senhor do que o senhor amava a ele. Se o senhor dizia: — Temos uma bela casa. Ele respondia: — Pois temos. Se a casa pegasse fogo, o negro da casa corria para apagar o fogo. Se o senhor adoecesse dizia: — estamos doentes. Se um escravo do campo lhe dissesse ‘vamos fugir desse senhor’, ele respondia: — Existe uma coisa melhor do que o que temos aqui? Não saio daqui. O chamávamos de negro da casa. É o que lhe chamamos agora, porque ainda há muitos negros de casa.”

E enquanto ao Anderson, confesso que não o conheço muito em relação a sua postura como negro.


Cara vejo muitos pretos em grupos de esquerda, se dizendo Stalinista, ou Trokista, mas eu particularmente não me vejo representado pela esquerda brasileira, falo no âmbito Afro mesmo "taligado", e em alguns grupos de esquerda os negros são silenciados, ou os brancos é quem fala de racismo... até quando você acha que nosso povo vai ser passivo e deixar que "a elite esquerdista fale por nós..?

R: A maioria dessas ideologias revolucionárias nasceram na mão de pessoas brancas e em sua maioria homens, eu também me sinto desconfortável. As pautas negras são constantemente ignoradas e totalmente invisibilizadas, é triste. Eu prefiro acreditar na Esquerda Libertária que acaba por ser interseccional e englobar todas as pessoas oprimidas como se fosse um só braço. A Esquerda institucional que serve o Capitalismo racista e excludente não me representa e nunca irá. Por tanto, eu acredito em movimentos da Esquerda Libertária, em movimentos autônomos  apartidários, horizontais. Vejo que o povo preto irá deixar de ser passivo quando começar a falar por si mesmo, na Esquerda Libertária isso já acontece, mas é um processo demorado, infelizmente.

Qual ou Quais Lideres Preto que você admira..? e porque..?

R: Eu costumo admirar pessoas negras mais próximas a mim, não exatamente líderes. Mas tem um em especifico: Malcolm X. E o motivo é simples: Foi o cara que me mostrou como que o Capitalismo precisa do racismo para sobreviver. Como ele disse: Sem racismo não há capitalismo.


Você tem só 17 anos.. e eu me pergunto de onde vem toda esta maturidade..?

R: Muita vivência. Alguns acontecimentos na minha vida requisitaram um amadurecimento muito precoce e eu também fui sempre muito questionador, então o futuro era bem previsível. Me enfiei nos meios ativistas aos 12 anos e por conta dessas vivencias que tive o conhecimento chegou muito rapidamente. 


Você como um Homem Preto, analisando os candidatos a presidência, qual ou quais você acha que vão fazer ou já fazem algo para o povo preto..? e se já escolheu algum candidatos diga-nos porque vai votar nele.

R: Eu sou apartidário e anarquista. Não vejo nenhum representante do povo preto lá... Poderia dizer que a Dilma foi responsável por algum dos projetos que, querendo ou não,emancipou algumas pessoas socialmente e financeiramente falando. Mas mudança no Status quo e na destruição da supremacia branca eu ainda não vejo.


Esta pergunta ou Roubei do programa Provocações da TV cultura, Teve algo que eu não te perguntei, que você queria que eu perguntasse..? se teve qual é a pergunta e qual seria a resposta..

R: Queria que me perguntasse sobre a militância dentro do Rap como é que anda e já respondendo: 

Eu e o Thiago Reis, que formamos juntos o Universo Paralelo, por enquanto estamos parados. Eu to com algumas musicas com o Breno prontas para serem mixadas e masterizadas, mas não sei se as lançarei por enquanto. Estamos na vibe de conversar bastante, expandir nossos horizontes, termos mais vivências e por consequência  mais propriedade e mais inspiração pra poder lançar musica. Uma vibe meio "MC Marechal" de sumir do Rap e depois voltar com tudo haha.


Você disse que é Anarquista, e a pergunta acima pra você é meio hipotética, eu na 
minha humildade sei pouco sobre o anarquismo, como seria o brasil ideal segundo o Anarquismo..?


R: Po, teríamos um trampo imenso. Recuperar nosso conhecimento orgânico e ancestral que infelizmente foi perdido e esquecido graças ao avanço do Capitalismo. Uma educação libertária onde realmente dê uma auto-determinação aos povos a conhecerem e se informarem sobre o que querem e o que necessitam, uma educação realmente não-mercantil, diferente da que existe agora. Segundo o anarquismo, seria extinta qualquer tipo de hierarquização e de regime autoritário, a população seria autonoma, auto-determinada e livre para se organizar e viver da maneira que quiser.  Uma sociedade baseada cooperação e na coletividade, diferente da atual que é baseada na individualidade e na competitividade. Sem classes, sem catracas, sem fronteiras, sem opressões, povo produz para o povo, tudo do povo vem e a tudo ele pertence. 


Seria e melhor dizendo, já ta sendo um avanço e uma mudança do micro ao macro. Já há coletivos, federações e espaços libertários anarquicos que disseminam esse conhecimento e que resistem contra as mazelas que o Estado e o Capitalismo proporciona. As pessoas costumam associar o Anarquismo a utopia de uma forma pejorativa, mas nenhuma flor nasce sem preparamento de um terreno. A revolução do germinar acontece do micro ao macro e o processo é demorado, enfim, espero ter sido compreendido na ideia.


Pra terminar esta é uma pergunta clichê que eu uso quase que sempre..
Se você fosse eleito presidente do Brasil, e o presidente realmente mandasse no brasil, qual seria seu ou seus primeiros atos..?

R: Po, eu deixaria de ser presidente hahaha. Daria foco na horizontalidade, apoio mútuo, distribuição de riquezas, fim da guerra de classes, da propriedade privada, de qualquer tipo de opressão, vish, mil fita. É meio engraçada essa pergunta pra mim porque sou anarquista, mas acho que nessa situação hipotética seria isso.


Obrigado mais uma vez por aceitar responder as perguntas, deixe sua mensagem seu salve ao leitores e amigos...


R: Quem agradece pelo espaço sou eu, um salve pra ti e pras pessoas que estão lendo e valeu pela troca. Queria deixar uma mensagem ao povo preto: Vamos a luta, vamos saudar a Mãe Africa e lutar constantemente contra a supremacia branca regente.

Axé!