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O rapper angolano Flagelo Urbano lança semana que vem seu álbum chamado “O Ermo"


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O Hip-Hop em Angola conhecerá, no próximo dia 13 de Setembro, um dos seus momentos mais célebres com o lançamento do álbum “O Ermo” de Flagelo Urbano que, mais do que um rapper, assume-se como um mestre da literatura oral moderna que encontrou na música um canal privilegiado para comunicar-se com o público.
Provavelmente baseado no provérbio latino que muitas vezes cita nas suas músicas, “mein sana in corpore sano”, “mente sã num corpo são”, Sambala, como também é chamado, e que há pelo menos duas décadas iniciou-se no hip-hop como dançarino de house, techno e funk, decidiu apostar mais no primeiro elemento, isolando-se no seu santuário (Zoologiko Produsons) a que chama de Medina, um quarto em que a cómoda de solteiro maior, o computador, as colunas, o microfone e a mesa misturadora lutam por um espaço contra os livros, CD e discos de vinil que se espalham por todos os cantos.
Foi desta forma que Flagelo Urbano se transformou num Monge, porém, o artista não aceita exonerar-se da função de “Sociológico sem Diploma”, aproximando-se das pessoas para ver de perto os seus problemas, mas como eremita e mestre da palavra falada busca na essência da escrita aquilo que é, sendo que ele próprio não ensina, mas é ensinado pelos alunos, como canta em “Griot – Mestre da Literatura Oral”, uma das músicas que compõem o “Ermo”, obra discográfica enciclopédica, com um grande pendor literário, mas também com uma forte abordagem sociopolítica sobre a Angola de hoje.
Sambala é um artista com opinião própria sobre o país e o mundo e não quer que esta morra dentro das quatro paredes da Zoologiko Produsons, mas sim que vá além-fronteiras e chegue a quem é obrigado pela comunicação social partidarizada a ouvir apenas os “analistas sem moral” e “políticos por um cheque” que “aprenderam a ser cortesãos da forma mais sombria” e fazem o povo crer que “reivindicar seus direitos é um atentado à soberania”, atira Flagelo na música “Demo Sem Cracia”, em que conta com a participação de MCK, um dos rappers mais proibidos em Angola.
Lista de Música
1-Griot (Mestre da literatura oral) part. Eduardo Siddhartha
2-O Ermo (Via láctea)
3-Escritores da Liberdade part. Leonardo Wawuti
4-Clonagem Sociológica
5-Gigantes de papel
6-Sílaba Silenciosa
7-Contra-capa part. Ikono (Nkua kubanza)
8-Flagelados do Vento Santo II part. Neydh Barbante
9-Plano alto
10-Ainda te procuro
11-Saída fugaz part. Célsio Mambo
12-Iluminismo (O Século das luzes) part. Khospe Lethra
13-Tabú part. Da Bullz
14-Demo sem Cracia (Liberdade may be tomorrow) part. MCK
15-O Betão (armado) part. Edú ZP
16-Força cósmica


E porque há mentira em todo lado, “nas escolas, na família e no Governo”, “no discurso do deputado escondido no terno”, o “Sociólogo sem Diploma” mostra uma outra face da moeda, lembrando ao polícia que pratica violência que é suposto ser ele a manter a ordem pública, para que de facto faça sentido o hino da “Res publica”.
O Ermo” traz um Flagelo Urbano nas vestes de um personagem e ao mesmo tempo um narrador de contos do quotidiano de um país cuja “independência pariu um rato”, porque “liberdades fundamentais só mesmo no quarto” existem. Mas, denuncia o rapper, também existem desigualdades sociais gritantes, porque, enquanto uma mulher zungueira às quatro da manhã se levanta, porque senão para os seus filhos não terá a janta, o país tem um punhado de “milionários feitos à custa dos ovos botados pelas galinhas do galinheiro desse povo, que não vê no horizonte o que será daqui para frente”.
Por ora, fique certo que daqui para frente não se deixará de falar de Flagelo Urbano, um homem que se eternizará pelas palavras “roubadas” aos mestres mudos, os quais lhe conferiram luz e capacidade para tornar-se senhor de si mesmo: “Sigo com os olhos os trilhos que seguem as frases/O conhecimento traz luz e nos torna mais capazes/ Senhores de nós mesmos, donos do que proferimos/ Sentimento de pertença e das ideias que defendemos/ Vemos os males e entendemo-los/ Mergulhamos facilmente na complexidade dos vocábulos/ Ganhamos noção de nós e do que está à nossa volta/ Desvendamos mistérios da história do ontem, do hoje e das civilizações mais remotas”, canta o rapper em “Mestre Mudo”.
De resto, “O Ermo” vem preencher uma certa ausência de consciência crítica no Hip-Hop angolano, cujos álbuns recentemente lançados caminham na margem do consumismo, do apelo descarado ou indirecto à prostituição e ao consumo de drogas, e que atrai maioritariamente os adolescentes e pessoas votadas à ignorância e falta de preocupação pelos seus direitos. Nas palavras do próprio, “o Ermo simboliza o isolamento, restrição, afastamento e recolhimento. O eremita isola-se, essencialmente para descobrir e redescobrir o conhecimento que o rodeia, na natureza, por exemplo, e também para se autoconhecer. O autoconhecimento é das mais primitivas formas de revolução”, explicita Sambala, concluindo que se trata de “um estado de espírito, um lugar distante chamado ‘dentro de nós mesmos’”.

Ficha Técnica:

Produção: Flagelo Urbano
Produção Executiva: Sambala (O Rei de Medina) e Eduardo Siddhartha
Direcção de A & R: Eduardo Siddhartha e Guilhotina Verbal (S. Sallesso)

Assistentes de Gravação: Eduardo Siddhartha e Nagamadi (Kospe Lethra)
Assistente de Mistura: Eduardo Siddhartha e Guilhotina Verbal (Sallesso)
Arranjos, Mistura e Finalização: Flagelo Urbano para a Rudi-Mental Medina e Zoológiko Produsons (2008-2014)
Direcção e Concepção de Capa: Tonny Graph

“Rudi-Mental-Medina e Zoológiko Produsons (O Santo Ofício) ”. 2015
Nota biográfica
Flagelo Urbano, rapper e produtor, nasceu aos 6 de Outubro de 1981, na província de Benguela, Angola. Depois de se ter iniciado no Hip-Hop através da dança, em finais de 96, quando conheceu que lhe falava muito em Câmbio Negro, Racionais Mcs, Kris kross, Ice of Bass, Salt, decidiu formar, na companhia deste, os Ney Company, grupo do qual faziam parte Valdney, hoje Flagelo Urbano, Eliney, e Chidney.
Em 97 formou um outro grupo chamado NCC com um primo seu, Sacondongo, mas este não teve sucesso, sendo que nem chegou a gravar nenhuma música. Em 98, já com o nome de Bone Bone e com dois amigos, Small Zig Zag e Protocolo Norte, formou o grupo Tribo Urbana, de onde vem o nome que mais tarde viria a adoptar. Nesse mesmo ano, devido ao insucesso deste grupo, o artista decide seguir uma carreira a solo e em 2001 grava 3 músicas no estúdio do rapper Raiva (Kamikaze), sendo que uma delas, “Sentimento Nacionalista”, fez parte da Colectânea 3ª Visão e outras foram integradas no 4º volume da Masta K.
Em 2003, Flagelo iniciou-se na produção com a ajuda de Raiva e Boni e aparece como produtor no álbum “Nutrição Espiritual” de MCK. Desde então, tem vindo a trabalhar com vários outros artistas, com destaque para Keita Mayanda, (O Homem e o Artista), Phay Grande (Pão Burro 2ª Via), Arséniko, Gladiador, Kita MC, Mona e Absinto.
Depois de várias músicas lançadas em projectos de outros artistas, em 2009 Flagelo Urbano apresentou ao público o EP “Entre o Tempo e a Memória”. No cenário do Hip-Hop, o artista teve como influências The Roots, 9th Wonder, Common Sense, Juaninaka, Nach, CL Smooth, Illmind, Kev Brown, Little Brothers.
Texto de Sebastião Vemba.

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