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Apropriação Cultural - Negra Li exagerou com Elvis?


Texto: Hebreu
Revisão de texto: Ana Rosa

Primeiro quero deixar bem escuro que se você veio aqui achando que eu vou falar sobre gente branca de dread ou turbante se enganou, apropriação cultural é algo muito maior! 


APROPRIAÇÃO cultural tem a ver com supremacia cultural, dominação, poder, etnocentrismo e capitalismo. 

Ou seja, o sistema rouba algo, molda a seu bel prazer, impulsiona isto, bota sua cara, tira quem criou de cena e ganha grana com isto. 

Sendo mais sucinto e direto ao tema. Eles pegam a cultura do preto, tira ele de cena, põe o branco, e ganha dinheiro em cima. 


No dia 26 de novembro, a cantora e rapper, Negra li, foi ao "Morning Show", Programa da rádio Jovem Pan para falar do seu álbum novo "Raizes".

Falaram sobre a caminhada dela, sua parceria com Chorão do Charlie Brown e rolou um papo sobre apropriação cultural e, foi perguntado a ela se o Eminem e o Elvis Presley são exemplos disto. 

Inclusive ela cita o exemplo da estilista que fez roupas em estilo afro (usam o termo roupas étnicas) onde só tinha modelos brancos. Isto é claramente apropriação cultural, ganhando dinheiro com arte negra sem usar o negro como modelo. 

No caso do Eminem, ela disse que não, porque ele era um branco no meio de vários pretos fazendo sucesso. A indústria tentou fazer do Eminem um novo Elvis? Tentou, mas não conseguiu. Então ela está certa o Eminem não entra nisto. 


E ela está muito certa em dizer isto! 

Isto já foi motivo para racistas e direitistas a chamarem de vitimista e até mesmo dizendo que ela estava praticando racismo e que ela estava de mimimi. 

Varios Youturbers surfaram nesta onda para ganhar views e destilar seu ódio. Só fiquei triste em ver irmãos pretos desmerecendo a Negra Li. Mas em fim, sempre tem uns capitão do mato atrasa lado. 

O que a Negra Li disse não é mentira ou vitimismo. Muita gente não sabe ou tem dificuldade de entender que o Rock foi criado por negros num momento em que o Estados Unidos vivia uma forte segregação racial. 

Quando se fala em Rock e vem a pergunta: quem é o rei do rock? O primeiro nome que vem na mente da maioria das pessoas é o Elvis Presley, sem dúvida. 


Eu cresci achando que rock era coisa de branco. 

Sister Rosetta Tharpe, Mãe do Rock.

Sem a Rosetta não existiria o rock



Eu sempre curti rap, portanto os moleques do rock sempre diziam que rap era coisa de preto, bandido e outras fitas. Eu e muita gente achávamos estranho um negro no rock. Porque os rockeiros apesar de usarem camisas do Che guevara, tinha atitudes bem preconceituosas.

Para vocês verem como apropriação do rock foi perfeita, conseguiram apagar os pretos da história do gênero. 
Dizer que o Elvis é o rei do rock é só reproduzir algo que foi criado pela indústria fonográfica. 

Uma curiosidade muito importante que tem que ser dita, o primeiro single do Elvis foi “That’s All Right”. Este single é uma regravação de um blues. "That's All Right" foi escrito e interpretado por Arthur Crudup, um cantor, compositor e guitarrista americano de blues. É mais conhecido pelo fato de várias de suas canções, como "That's All Right", "My Baby Left Me" e "So Glad You're Mine", terem sido regravadas por Elvis Presley e diversos outros artistas ligados ou não ao rock. No Brasil, tivemos várias músicas regravadas por Raul Seixas. Mesmo tendo seu nome nos créditos, Arthur Crudup nunca recebeu royalties pela gravação de "That's All Right". 



Como dito acima, o Estados Unidos passava por um momento de segregação racial e também por uma grande e forte onda conservadora. Os cidadãos de bem, saca? 

Meados dos anos 40, o rock tomava conta das rádios e paradas musicais. Este ritmo era considerado transgressor pelos membros mais conservadores da sociedade norte-americana. Esta cúpula da sociedade considerava o rock com “alto potencial para perverter os jovens”. Era uma lastima para eles terem que aturar negros nos topos das paradas. Neste tempo os artistas em alta eram: Chuck Berry, Fat Domino e Bo Diddley. Mas o mais assustador, para estes cidadãos de bem, era Little Richard, que além de negro, era homossexual assumido, usava maquiagem e um penteado considerado por eles como exótico. Little Richard foi quem cravou nas paradas de sucesso o Hit “Tutti Frutti”, que se tornaria um hino do rock. 

Little Richard

Com tudo isto, criou-se toda uma movimentação por parte de grandes gravadoras na busca de pessoas que reduzissem esta polêmica em torno do novo estilo musical. A real é que eles queriam um herói branco para sua classe média branca que não admitia gostar de algo produzido por negros. Diversos Hits e músicas de artistas negros foram sendo relançadas por artistas brancos. Tutti Frutti”por exemplo, foi regravado por Elvis, eu achava inclusive que era dele. Toda esta ação maquiavélica foi para tirar o protagonismo do negro para a criação do herói branco deles. 

O presidente da Sun Records, Sam Phillips, foi quem descobriu Elvis Presley. Ele tem uma frase bem emblemática. Sam numa ocasião disse: “Se eu pudesse encontrar um homem branco que tivesse o som negro e o feelling negro, eu poderia fazer um bilhão de dólares.” Ele sempre negou esta afirmação publicamente, mas seus objetivos se concretizaram. 




Elvis Presley, nascido no Mississipi começou cantando música negra, dançava como os negros do gueto e tinha um ar e atitudes rebeldes, assim como todos os astros negros do rock. Elvis, além de ser branco tinha a máquina a seu favor, fez um sucesso meteórico. Mas ele foi sendo moldado, após ter servido 3 anos no exército, se tornou um patriota conservador e cantor de baladas românticas. E claro foi garoto propaganda do governo estadunidense. 

Elvis tinha talento, claro (sem trocadilho)! Mas ele foi produto de uma mídia e de uma sociedade racista, que precisava de um herói branco para ofuscar os cantores negros do rock. Claro que ele não foi o único branco no rock, mas com o seu sucesso, as gravadoras lançaram várias bandas brancas e obtiveram sucesso. 

A partir do momento que se cria um comercio de pessoas, escravizadas com base na cor da pele, e depois quando por pressão e lutas, o movimento escravista perde força, rapidamente cria-se um sistema de segregação racial baseado na cor da pele. E este povo que vive na marginalidade (margem da sociedade), cria seus costumes, ou seja, sua cultura, no qual os brancos chamam coisa de preto. Isto mesmo, os BRANCOS, diziam que Blues era coisa de preto, que Jazz era coisa de preto do gueto, adivinha o que a sociedade branca de classe média, os cidadãos de bem dizia do rock? Exato! Que era coisa de preto! 


INDICAÇÃO DE LEITURA: O rock e a resistência

Mas a partir do momento que esta parte da sociedade percebeu como a cultura negra é rica, eles arrumaram um jeito de sugar esta cultura $$, mas sem o negro. Isto não aconteceu só com o Rock, mas com o Jazz, com o Reggae, tentam a anos fazer isto com o rap. Eles usam o termo: “Ahh mas a música não tem cor”. Dizem isto hoje que eles querem se inserir pra curtir e ganhar dinheiro. Quando eu era moleque, o rap era coisa de preto, hoje eles vêm com papo que não tem cor. Aaah se foder pra lá, carai! 


Mas em fim, este texto além de ser informativo, é um posicionamento de apoio a Negra Li.  A indústria musical é branca, racista e sempre vai insistir e investir no seu padrão estético branco.  Nós pretos somos resistência em todo e qualquer espaço!

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