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Mercado em queda está mudando o hip-hop


Até algumas semanas atrás, a história parecia ser um dos poucos momentos felizes a emergir de um ano difícil para o hip-hop. O UGK, dupla de rappers de Port Arthur, Texas, que influenciou toda uma geração do rap sulista, havia voltado a gravar depois de cinco anos de hiato. O retorno foi marcado por um single sublime, Int'l Players Anthem (I Choose You), e por um excelente álbum duplo (Underground Kings), que estreou na primeira posição da parada de rap da Billboard.

E então, em 4 de dezembro, surgiu a notícia: Pimp C, o mais extravagante dos dois rappers do grupo, habilidoso nas rimas e ainda mais habilidoso na produção, foi encontrado morto em seu quarto de hotel. Bun B, o parceiro, concedeu uma série de eloqüentes entrevistas para tentar explicar o que ele havia perdido, o que os fãs haviam perdido.

"Eu aprecio a preocupação das pessoas", disse Bun B à revista Vibe. "Mas não quero que ninguém deixe de viver, porque Pimp preferiria que todos nós continuássemos na luta".

¿Continuar na luta¿ parece ser um ótimo lema para o hip-hop em 2007. O ano foi caracterizado pelo colapso final da máquina que criou uma longa série de astros musicais, de Snoop Dogg ao OutKast. Agora, resta aos rappers trabalhar ainda mais, e por recompensas menores.

Os novatos que chegaram ao mercado com grandes singles e esperanças ainda maiores acabaram fora das paradas depois de vender algumas centenas de milhares de cópias, se tanto. Híbridos baseados em hip-hop dominavam as rádios, mas os rappers em si pareciam figuras do submundo, pela primeira vez em quase duas décadas.

As vendas caíram no mercado em geral, mas o hip-hop sofreu ainda mais. Entre 2005 e 2006, as vendas de rap caíram em 21%, e a tendência parece ter continuado neste ano. Isso talvez represente o fim do ciclo de vertiginosa ascensão do gênero nos anos 90, durante o qual uma série de astros - Dr. Dre, Snoop Dogg, Tupac Shakur, Notorious B. I. G.- descobriu como vender milhões de discos sem abandonar seu lado mais sombrio.

Por volta de 1997, a onipresença de Puff Daddy havia ajudado a cimentar a nova imagem do hip-hop: a do rapper como magnata. Como todas as tendências da música pop e como todas as tendências econômicas, não era provável que isso perdurasse.

Mas ainda que o ano tenha sido negativo em termos de vendas de hip-hop, não quer dizer que a música tenha sofrido. A batalhadora gravadora independente Koch se saiu bem, com dois grandes álbuns de rappers que abandonaram os selos mais conhecidos: Return of the Mac, de Prodigy, do Mobb Depp; e Walkin' Bank Roll, de Project Pat. (A Koch também lançou We the Best, uma coletânea do DJ Khaled, produtor de dois grandes sucessos de hip-hop, e The Brick: Bodega Chronicles, o bem recebido álbum de estréia de Joell Ortiz).

E também tivemos Turf Talk, um estreante falastrão da Califórnia, responsável por talvez o mais excitante álbum de hip-hop do ano, West Coast Vaccine (The Cure), lançado pela Sick Wid's Records, dirigida por seu primo, o rapper E-40.

Mas, a despeito das rimas extravagantes de Turf Talk, o álbum se manteve praticamente em segredo. Sem sucesso nacional de rádio ou um videoclipe razoável, Turf Talk promoveu seu trabalho basicamente por meio de apresentações na costa oeste, de San Diego a Tacoma, no Estado de Washington.

Em entrevista por telefone, da Califórnia, ele tentou apresentar a melhor imagem possível quanto a um ano contraditório: "Os independentes estão começando a brilhar de novo", disse. Mas, diante de alguma insistência, ele admitiu que gostaria de trabalhar para uma grande gravadora, falando em terceira pessoa: "Turf Talk quer ser conhecido no mundo todo."

Alguns anos atrás, esse objetivo pareceria razoável, e possível. Nos anos de boom, o setor abriu espaço a uma legião de otimistas: rappers esforçados e de sucesso local que sonhavam sucesso em escala muito maior. E alguns desses sonhos se realizaram.

Em 1998, Juvenile passou de segredo das rádios de Nova Orleans a astro pop, vendendo cinco milhões de cópias do álbum 400 Degreez. Dois anos mais tarde, Nelly veio do nada (ou melhor, de St. Louis) e vendeu seis milhões de cópias de Country Grammar. As vendas de CDs chegaram a um pico nacional em 2000, e àquela altura até mesmo os astros de segunda grandeza das grandes gravadoras de rap estavam conquistando discos de ouro pela venda de meio milhão de cópias.

Porque o hip-hop é um gênero introspectivo e auto-referente isso o levou a ser identificado como um negócio de muito retorno financeiro, e obcecado com o próprio sucesso. Agora, se as expectativas tiverem de ser moderadas, o som do rap mesmo será modificado.

Até que ponto os números são ruins? Bem, em 2007 nenhum rapper se saiu pior do que 50 Cent, que desafiou Kanye West para uma batalha de vendas e saiu derrotado.

Curtis, o sólido, mas nada inovador álbum que ele lançou este ano, vendeu cerca de 1,2 milhão de cópias, de acordo com a Nielsen SoundScan; se levarmos em conta que ele é o maior astro do gênero, isso é um desastre (especialmente se comparado a Massacre, seu disco de 2005, que vendeu mais de cinco milhões de cópias).

A volta de veteranos como Jay-Z e Wu-Tang Clan agradou os antigos fãs desses rappers, mas não conquistou novas audiências. Kanye West vendeu 1,8 milhão de cópias de Graduation, que parece ser o único álbum de sucesso real do hip-hop este ano, ainda que West goste de se distinguir dos rappers convencionais. E os estreantes descobriram que as regras mudaram.

Apesar de alguns sucessos, só Soulja Boy conseguiu atingir a marca dos 500 mil CDs vendidos. (E, apesar da estréia no topo da parada e de meia década de expectativa, o triunfante álbum duplo do UGK tampouco chegou à marca do meio milhão de cópias vendidas.)

Tradução: Paulo Migliacci ME

The New York Times
Fonte::Terra

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