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Hip hop é utilizado contra a violência e as drogas


Síntese dos piores indicadores que permeiam a cidade, o bairro Guarapes nasceu de um estupro. Seus moradores vieram de favelas derrubadas em áreas urbanas e, muitas vezes sem vontade, foram obrigados a ocuparem o terreno, localizado na periferia, entre as quebradas que dividem Natal de Macaíba. É neste espaço, marcado pela discriminação e pelo preconceito, que vários grupos de jovens estão fazendo a diferença, utilizando a arte para promover o desenvolvimento sustentável do lugar.

Com uma população de 16 mil habitantes, na zona oeste, o Guarapes está vivenciando muitas mudanças significativas, a partir da sensibilização e mobilização comunitária realizado pelos jovens, num movimento articulado de combate à violência e redução de danos. Durante muito tempo estigmatizado como o bairro mais violento da cidade, contam que nos últimos três anos não há registros de homicídios. "Achamos que demos uma contribuição para este resultado", afirma Edcelmo da Silva Bezerra, uma das lideranças da rede Posse, que congrega nove organizações de hip hop, grafite e similares.

Considerado um dos maiores bolsões de pobreza da capital, com elevado índice de natalidade (comparado ao da Nigéria, na África) e mortalidade de jovens vítimas do tráfico, os jovens começaram a se indignar com o cenário de miséria e descaso das políticas públicas e resolveram fazer algo para transformar aquela realidade. O caminho passava pela criação de um movimento cultural articulado, envolvendo não somente atores do bairro, mas da periferia de vários lugares do Brasil. "Não queremos a arte pela arte, e sim interagir com discussões sobre cidadania, protagonismo, gestão, orçamento, empoderamento e outros", disse.

Também não querem uma estrutura tutelada, como aconteceu com o Fórum Engenho de Sonhos, que fracassou, e acontece ainda com algumas instituições que se aproveitam da riqueza de manifestações locais e ingenuidade, aliada à falta de conhecimento dos verdadeiros mestres, para se beneficiarem disso. "Na Posse, queremos intervir localmente, potencializando pessoas da comunidade. Também enfatizamos a organização, não as pessoas", ressaltou Amauri Reginaldo da Rocha, articulador de comunicação da organização.

O carro chefe do trabalho é o movimento hip hop, que vem ganhando força nas comunidades periféricas. Um dos projetos, o Bodega Digital, busca promover a capacitação por aptidão, unindo profissionalização com educação contextualizada, levando os jovens a interagirem com a cultura popular ao mesmo tempo em que possibilita conhecimento com as novas tecnologias de informação, como vídeo, internet e fotografia digital. "Se vamos fazer algum evento, o cartaz é produzido na comunidade e a pessoa remunerada", exemplificam.

Com uma experiência acumulada significativa, o grupo enfrenta dificuldades de sustentabilidade, buscando apoio para o desenvolvimento e fortalecimento das ações executadas. Para marcar os dez anos de fundação, pretendem lançar o livro "Dez anos de luta e correria - histórias de vidas coletivas e individuais", que está sendo escrito por várias mãos e deverá ser lançado até o final do ano. Na pauta, lembranças de conflitos com a polícia, histórias de discriminação e lembranças de amigos que se foram, vítimas da miséria e do tráfico. "Hoje, não se faz nenhuma mobilização na comunidade sem passar por nós", relatam.

04/07/2008 - Tribuna do Norte

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