"Alguma
coisa a ver com uma missão", da Cia. Os Crespos, convida
espectador a revisitar lutas negras no Brasil.
"Cada
um de nós precisa ser frio como uma faca. Nada como uma lâmina bem
afiada. Corta até o cheiro do sangue"
Tendo
o centro da cidade de São Paulo como cenário, o espetáculo tem
início nas escadarias do Theatro Municipal onde o público é
abordado por seis personagens e conduzido a Praça Ramos de Azevedo.
Nesta abordagem, as pessoas recebem um questionamento. Os atores
perguntam: "Vocês vieram para o levante?". A partir deste
encontro têm início "Alguma
coisa haver com uma missão",
novo espetáculo da Cia.
Os Crespos, que
leva o público a revisitar fragmentos das lutas e da presença negra
no Brasil, acompanhando duas personagens - uma Gari e uma auxiliar de
enfermeira - que recebem um convite para descortinar o passado, em
meio a imagens de revoltas, revoluções e levantes negros, todos,
fatos invisibilizados pela história oficial. A
temperada será de 13 de outubro a 06 de novembro de 2016, quintas,
sextas e sábados às 20h e domingos às 19h, na Praça Ramos de
Azevedo, no centro da cidade de São Paulo.
"Alguma
coisa haver com uma missão" investiga
as evoluções locais e revoluções políticas latino-americanas a
partir dos levantes negros no Brasil e no Caribe, tendo em vista a
construção imaginária de uma revolução poética a favor da
abolição do racismo. O espetáculo é a última etapa do projeto
"De
Brasa e Pólvora - Zonas Incendiárias, panfletos poéticos",
uma releitura do texto "A Missão: Lembrança de uma revolução"
de Heiner Müller. A Cia. Os Crespos realizou duas intervenções
urbanas na cidade de São Paulo - "Ninhos
e revides, mirando o Haiti" e
"De
Brasa e Pólvora". O
processo criativo dos Crespos sempre acontece de forma contínua e
cada intervenção serve como uma espécie de "laboratório"
onde os atores colhem informações, reciclam ideias, tecem as cenas
a partir das experiências vividas no espetáculo e com o público.
"Alguma
coisa a ver com uma missão" é
o resultado desses estudos.
"Com
este espetáculo queremos resgatar as pequenas e grandes conquistas
do dia-a- dia daqueles que, inversamente ao que até hoje se supôs,
resistiam a se tornar meras engrenagens do sistema que os
escravizara. Esse é o ponto de partida para uma verdadeira mudança
de ponto de vista numa possível reestruturação social"
explica
Lucélia Sérgio, uma das fundadoras dos Crespos, ao lado do ator
Sidney Santiago.
O
espetáculo
Duas
mulheres - Uma auxiliar de enfermagem e uma gari - são convidadas
pela barqueira dos mortos a visitar o passado. A barqueira - uma
figura mítica e carregada de simbologia umbandista dos orixás e
entidades - leva as personagens através da calunga grande, palavra
de origem bantu, que significa o grande cemitério (os africanos viam
o mar como morte em vida, o caminho onde irmãos, filhos e pais eram
levados para longe, para a escravidão, levando-lhes as crenças, a
religião, a dignidade). Por intermédio desta alegoria, Os Crespos
transportam o público para uma viagem que remonta as revoltas e os
levantes negros responsáveis pela formação e espírito de luta de
um povo.
Musicalidade
do espetáculo baseia-se no Vissungo, canto escravo extinto com o fim
da escravidão
Os
VISSUNGOS
são cantos afro-brasileiros originais de Minas Gerais e cantados por
descendentes de escravos. Eles viviam em comunidades mais isoladas e
que, desta forma, preservaram por mais a tempo a lingua nativa
devido a esta manifestação cultural no dia-a-dia do trabalho
escravo.
Era
utilizado como meio de comunicação entre os escravos, ou então,
para a saudar a lua ou a religião. Durante o trabalho nas minas e no
trabalho dos terreiros, nas brincadeiras ou no cortejo dos enterros,
os negros escravizados preservavam sua cultura à revelia dos
senhores através da música. E também através da língua, uma vez
que esses cantos ainda hoje mantêm muitas palavras originárias de
línguas africanas. Nos dias de hoje estas canções não existem
mais, pois eram realizadas durante o trabalho no campo. Ao fim da
escravidão, as cantigas sucumbiram junto com o fim deste processo.
Quem
são Os Crespos
Quem
são os Crespos
Os
Crespos é um coletivo teatral de pesquisa cênica e audiovisual,
debates e intervenções públicas, composto por atores negros.
Formo-se na Escola de Arte Dramática EAD/ECA/USP e está em
atividade desde 2005. A Cia. trabalha, há nove anos, a construção
de um discurso poético que debata a sociabilidade do indivíduo
negro na sociedade contemporânea e seus desdobramentos históricos,
aliado a um projeto de formação de público. Seu percurso parte da
experiência disseminada do TEN – Teatro Experimental do Negro,
idealizado e gerido por Abdias do Nascimento, que de 1948 ao fim dos
anos de 1960, construiu um projeto teatral popular revolucionário,
que teve como objetivo central o combate ao racismo e às
desigualdades raciais, aliado a uma formação intelectual, lírica e
dramática para seus artistas.
Ficha
Técnica
Direção
- Os Crespos Atores
Criadores -
Lucélia Sergio, Sidney Santiago, Dani Nega, Dani Rocha, Joyce
Barbosa, William Simplício Direção
Musical:
Giovani Di Ganzá Criadora
Musical:
KáNêga Santos e Gisah Silva Direção
de Vídeo:
Cibele Apes Direção
de Som -
Edu Luz Cenotécnico
- Wanderley Wagner da Silva Aderecista
- Cleydson Catarina Direção
de Arte -
Maya Mascarenhas Direção
de arte (assistente) Gui
Funari Equipe
de Criação -
Lena Roque Orientação
- José Fernando Peixoto de Azevedo e Kenia Dias Direção de
Produção
- Adriano José, Ivy Souza Produção
Executiva -
Felipe Dias Contra-regra
- Rogério Aparecido e Frederico Peixoto de Azevedo Financeiro
- Ramon Zago Dramaturgia
-
Allan da Rosa Assistência
de Dramaturgia -
Christian Moura Preparação
Musical -
Mauá Martins Preparação
Corporal -
Alexandre Paulain/ James Turpin/ Dagoberto Feliz/ Inês Aranha/ Kenia
Dias Preparação
Teórica
- Saloma Salomão e Allan da Rosa Assessoria
de Imprensa -
Lau Francisco (7 Fronteiras Comunicação) Designer
Gráfico -
Rodrigo Kenan Fotografia
-
Roniel Felipe
Serviço
Temporada
- De 08 de outubro a 06 de novembro de 2016
Horários
-
quintas, sextas e sábados às 20h e domingos às 19h
Local
-
Praça Ramos de Azevedo, região central de São Paulo
**
O
espetáculo tem início nas escadarias do Theatro Municipal e o
público será direcionado por atores da Cia. Os Crespos até a Praça
Ramos de Azevedo
Classificação
etária: Livre
Espetáculo
Gratuito
Duração:
60
min
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