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Racionais é destaque no Digestivo Cultural...!!


Racionais é destaque no Digestivo Cultural
Fonte:Digestivo Cultural

Os "manos" Racionais

Texto: Débora Costa e Silva

Uma aula sobre o rap em um curso de Música Popular Brasileira parece estranho, não é? Mas não, faz muito sentido. A desigualdade social que o Brasil vive é cada vez maior e não encontra em nenhum outro estilo musical uma representação mais fiel dessa realidade cruel. Alguns podem considerar que o rap não é canção, sequer música, por ser tão falado. Mas não há como negar a poesia presente nas letras e o poder que elas exercem por serem tão verdadeiras, diretas e reveladoras. Se é MPB, isso eu já não posso afirmar, mas o rap tem uma importância fundamental na história da música brasileira.

A psicanalista Maria Rita Kehl falou sobre o esforço civilizatório dos Racionais MC’s na última terça-feira no curso de MPB do Espaço da Revista Cult. O que chama atenção de início é como surgiu o interesse pelo rap. Ela contou que o primeiro contato com o grupo foi em um comício do PT no Vale do Anhangabaú. “O público era muito diferente da militância petista tradicional. Era uma moçada de boné, bermuda larga, cabelo raspado, que não via nenhum problema em subir em bancas e postes para ver melhor o show”, lembra. Mas não viu ali nenhuma agressividade, como aconteceu neste ano na apresentação do grupo na Virada Cultural na Praça da Sé.

“Me atentei ao fato de eles se chamarem de mano e me interessei por conta da questão do fraterno, que na psicanálise está muito ligada a idéia de que somos todos filhos de Deus”, explica. De fato, essa fraternidade existe entre os jovens da periferia, pois se sentem representados pelos rappers. “Cada um deles se sente capaz de contar sua vida nesse ritmo, eles se consideram um rapper em potencial, não um tiéte”, avalia.

Segundo ela, isso acontece porque os Racionais não posam de pop stars, não se distanciam do público. Eles usam o rap como alternativa para sair da exclusão social, mas não usam o trabalho para se oferecem como objeto de adoração e de consolo para a grande massa de fãs. “Os rappers se dirigem ao contrário, a partir do local do semelhante. É muito horizontal e é por isso que eles não se relacionam com a mídia.”

Além de se recusarem a falar com a imprensa, os Racionais também não fazem questão de ter o reconhecimento da classe média, mesmo tendo fãs nesse grupo social. São os jovens da periferia, negros e pobres que constituem seu público-alvo. “Eu não me preocupo com a classe média, porque se você se preocupar com a classe média, você vai começar a xingar muito para ofender. O rap não apavora ninguém, a classe média já é apavorada por natureza. O rap é só a trilha sonora do mundo que a gente vive. Esse mundo é que é apavorante”, declarou Mano Brown para a revista RAÇA, em uma das poucas entrevistas que cedeu.

O esforço civilizatório dos Racionais a que a psicanalista se refere é a grande missão do grupo. “Eles tem uma idéia da revolução que eles querem fazer, a começar pela arma que eles se utilizam, que é a palavra.” Com a palavra, eles querem promover consciência e atitude nos jovens negros. “Orgulho da raça negra e atitude de lealdade com os manos que são negros e pobres como eles”, resume. Quanto a negação do público da classe média, Maria Rita acredita que isso representa um limite a esse esforço civilizatório, mas está de acordo com a filosofia que pregam.

Uma outra polêmica que envolve os Racionais MC’s vem geralmente de quem não conhece a fundo as músicas, que é o pré-julgamento das letras como violentas ou apologéticas ao crime. De acordo com a psicanalista, a estética da violência é utilizada para impressionar o ouvinte e mostrar a ele como a realidade é horrível e violenta para que ele tente seguir outro caminho. O próprio Mano Brown, líder do grupo, já explicou uma vez: “Se você vender aquilo ali que é miséria ninguém compra, você vai ter que transformar. Por que o cara gosta do rap? Tem rima, tem balanço, fala umas palavras que no dia-a-dia o cara nunca ia m ia virar um rap. É tudo magia”.

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