Da periferia para as capas de revista, Criolo carrega a sina de ter
seu talento eclipsado pela origem humilde e batalha para seu protesto
não virar clichê
“Fique atento, irmão, quando uma pessoa lhe oferece o caminho mais
curto, fique atento.” A sentença, de inspiração bíblica, é proferida na
primeira faixa, “Bogotá”, do disco Nó na Orelha (independente, 2011) –
segundo do rapper Criolo. Com 370 mil downloads no site oficial, o álbum
foi citado exaustivamente em listas dos melhores de 2011 e fez com que
seu autor ocupasse capas de revista, protagonizasse (muitos) shows
lotados e ganhasse prêmios (Melhor Disco, Revelação e Melhor Música, com
“Não Existe Amor em SP”, no Video Music Brasil, da MTV; e
Revelação/Música Popular, da Associação Paulista dos Críticos de Arte,
em 2011), tornando o rap mais hype.
Uma guinada na vida de Kleber Gomes, de 36 anos, um dos cinco filhos
de Cleon e Maria, nordestinos que migraram para São Paulo e se fixaram
na periferia da grande cidade para trabalhar por uma vida melhor.
Kleber, a exemplo dos pais, nunca escolheu os atalhos nem as portas
largas. Trabalha desde cedo, vendeu de espetinho de carne a roupas e
tentou ser arte-educador. Morou com os pais, no Grajaú, até os 35 anos,
não por opção, mas por restrições orçamentárias. E parece ter a sina de
ver seu talento sempre eclipsado por sua origem, como canta em
“Sucrilhos”: “Gostam de favelado mais que Nutella”.
Sua trajetória no rap começou há 23 anos, com seu nome próprio. Virou
Criolo Doido quando fez o primeiro registro fonográfico, Ainda Há Tempo
(independente, 2006), e iniciou a produção de rinhas de MCs no Grajaú e
redondezas. As rinhas integram a história do hip-hop brasileiro e
consistem em encontros de mestres de cerimônia e cantores autorais de
rap, para batalhas de improviso. “Não conseguia nem bancar minhas
calças. Nunca tive dinheiro na vida e nenhuma dessas questões outras que
fazem com que você consiga construir minimamente alguma coisa dentro
dessa colmeia”, atira Criolo.
Lutou pelo rap nacional e pensava em desistir da carreira quando
gravou o segundo disco. Usou apenas o nome Criolo no trabalho, que é
sucesso incontestável para qualquer um, menos para ele: “O Nó na Orelha é
um acidente. Ia parar e um amigo me estendeu a mão para que eu
registrasse as canções que eu cantava o tempo todo, por isso o nome.
Quando termino uma poesia, já quero falar, porque não sei se vou estar
vivo amanhã. Olha o tamanho do desespero, a fragilidade, como estou
longe de ser um deus. Pelo contrário, sou aquele que carrega o andor, e o
santo é pesado”, arrebata.
Apesar da aparência pacífica e do jeito calmo, adota a defensiva
sempre que abordado, recusando os rótulos. Sua fala é vertiginosa e ele
insiste na
negação dos clichês, forçando o interlocutor a penetrar em
seu labirinto para entender seu protesto.
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