#OpiniãoPeriférica - Confira nossa segunda entrevista de Novembro, com o leitor Sergio
Hoje no Quadro “Opinião Periférica” conversamos com o nosso
leitor Sergio. Sem falar muito, deixemos que ele se apresente e mostre suas
ideias e seus ideais.
1 - Primeiramente é importante se apresentar, quem é Sergio?
Eu sou o Sergio, natural de Minas Gerais, e atualmente moro
no interior de São Paulo, Sorocaba. Sou
graduando em Ciências Biológicas, esquerdopata de carteirinha, amante de
ciência ,e de ficção em todas as
vertentes conhecidas por mim : HQs, filmes , series , livros, contos, teatro, etc ...
2 - Qual sua aproximação atualmente com o Hip Hop?
É bem pouco próxima, sou só ouvinte, tenho contato com
alguns artistas, ou com a galera do meio (staff), mas nada que me faça
influente ou conhecido. Sou só um bom ouvinte apreciador da cultura e suas
vertentes.
3 - Como ouvinte, o Rap te ajudou a olhar pro mundo de forma
diferente? Acha que hoje em dia isso ainda acontece?
O Rap
me ajudou a olhar pro mundo diferente sim, aconteceu e ainda acontece. Apesar
de eu não poder dizer que o rap mudou minha vida e coisas do tipo, a musica foi
muito importante na minha formaçao, o MV Bill, Eduardo Taddeo e Mano Brown me
influenciaram muito.
Na
época que comecei a ouvir rap , a galera que era famosa, e que eu mais gostava
como : o Kascao e T$G , Ao cubo, Dj Alpiste , etc , era uma galera com um
posicionamento político-social que não era
tão explicito, e os que fizeram nem sempre eram coisas que eu concordava.
No passado, na minha adolescência , eu
me enxergava bastante no Brown e no Mv Bill, eles foram responsáveis por muitas
atitudes e posicionamentos meus na época , eu sempre pensava “Se os caras (Mano
Brown e/ou Mv Bill) se posicionam assim , eu também posso , por que deve ser o
correto.
4 - Você tinha um blog de Rap não tinha? Porque parou com o
blog? Qual o poder das mídias de Hip Hop no “hype” dos artistas?
Eu
tinha um blog, o Subsolo Urbano, por sinal não apaguei ele, dá pra achar no
google a primeira versão dele (Fizemos a
funça pra você leitor - http://subsolourbano.blogspot.com.br/). Ele me ajudou muito, porem tive que abandonar
ele, porque eu parei de ter tempo e ânimo pra lidar com alguns MC’s. Fora eu, ainda tinha 2 escritores (amigos meus
de longa data) que faziam a parte do Rock, porque sempre achei interessante
essa junção do Rap com outros ritmos musicais
E sim, eu acho que o poder das
mídias influencia diretamente na hype dos artistas, citando artistas que eu
acho fenomenais, que estão no ápice da lírica, da performance como rapper, como
MC, como o Amiri, mas aparentemente não tem uma boa mídia e acaba perdendo em
tudo pra molecada merda tipo Costa Gold e Haikass, essa é a ideia.
5 - Você já ouviu o termo “hip hop para geeks” ahahaha?
Não é que eu esteja dizendo que o Rap tenha que ser estático, sem referências da cultura pop ou qualquer outra coisa, e deva ficar apenas com uma temática, é so que PRA MIM , fazer rap falando só de esfera do dragão , jutsu , Hqs ou o caraio a 4 não acrescenta em nada, ate por que , pra mim as obras que tem uma profundidade maior, no geral são as inspiradas em fatos históricos da nossa realidade, a cultura pop (quando bem feita), já tem uma postura sobre a conscientização de causas sociais e politicas , existem diversos clássicos que cito nesse quesito como Watchmen, Luke Cage Noir (Leiam as recomendações rssrsrsrrs), Fullmetal Alchemist, Gta ,etc , então por que não trabalhar melhor a ideia e usar as obras apenas como referencias leves, saca?. Existem diversos artistas que já fizeram álbuns inteiros baseados em coisas da cultura pop e são muito bons, como o em álbum Em carne viva do Funkero, American gangster do Jay-z (apesar de nesse caso a historia do filme ter sido baseada numa historia real, o album se baseou no filme com o Denzel Washington de 2007), Emicida cita Kubrick e outros diretores com bastante frequência nas suas musicas, Max BO já fez uma musica inteira só com nome de filmes, o próprio Wu-tang, o maior e melhor grupo de rap da historia se baseia bastante nessa premissa de clichês da cultura pop (no caso filmes de artes marciais) e etc. EU vejo isso como algo que ta ali que pode e principalmente deve ser usado, mas só como um acessório mesmo, com uma certa moderação, com um pouco de bom senso, sei la, a cultura pop se casou com o Rap faz tempo, mas ai que ta o ponto, normalmente vem acompanhado de uma ótima lírica e de originalidade, e originalidade e lirica é o que normalmente falta nessa galera que usa esse papo “geek”, falta originalidade e um lírico mais aguçado pra saber como trabalhar as referencias, que consiga não apenas entreter a mulecada mas levar conhecimento a quem quiser conhecimento, eu por exemplo , vim conhecer diversas vertentes e artistas da cultura pop e cultura “marginal” através do Rap , conheci por exemplo os trabalhos de Jean Basquiat (https://taislc.blogspot.com.br/2016/03/jean-michel-basquiat.html), Salvador Dali (https://www.escritoriodearte.com/artista/salvador-dali/ ) ou mesmo lendas como Chuck Berry e Fela Kuti, através de citações em musicas , e acredito que o Rap como musica deva ser isso , mais do que um simples amontoado de refencias a arco/saga/personagem da cultura pop, deva ser uma ponte pro conhecimento da galera que ta na periferia,então mesmo que esse papo de geek , as vezes gere uma ou outra metáfora foda , é algo bem restrito a um publico x ao meu ver , e eu acho meio pombo fazer trabalhos inteiros baseados nisso, não vejo muita diferença entre isso, e rimar sobre vagalumes rsrsrsrsrs
6- Muitos ouvintes de Rap, criticam quando um rapper começa
a ganhar dinheiro no Rap, diz que se vendeu e etc. O que você acha sobre isso?
Então,
esse rolê do rapper ser vendido, eu meio que nunca tive essa visão. Eu comecei a entrar de cabeça no Rap e na
cultura Hip Hop com rap gringo, principalmente com o 50 cent la pra 2005 na
época do lançamento do “The Massacre”, tenho ate hoje o disco físico em casa rsrsrs.
Sempre achei que o rap tem que ganhar dinheiro, ninguém vive de ideologia, saca?..
Acho que a molecada que fala isso, tem que rever seus conceitos, tem que
prestar atenção que ninguém vive de ideologia, ideologia não enche barriga nem
paga contas. A questão é a postura que você tem que ter. Sempre cito o caso de
quando o Mv foi na globo por exemplo,mas foi com a mesma postura, e teor
critico , e por sinal ate cantou uma musica que criticava a própria emissora .
Diferente de alguns que começam a fazer
músicas diferentes e coisas do tipo ,após fechar contrato com alguma
emissora ou gravadora de grande porte.
7 - Tem uma frase da Sueli Carneiro que diz: "Eu, entre esquerda e direita continuo sendo preta", o que acha desta
frase? Você tem algum posicionamento politico?
Eu
aprecio muito a Sueli como acadêmica (quem dera um dia eu me torne metade do
que ela é ), já li alguns trabalhos acadêmicos dela e sempre recomendo , ela já
lançou um artigo muito interessante sobre enegrecer o feminismo e talz, mas
discordo muito desse ponto.
Eu fui dar uma pesquisada
para ver o contexto que essa frase foi dita , e não discordo contexto que ela
foi usada, que foi pra rebater umas frase do Celso Pitta em 2000 (http://www.otempo.com.br/opinião/fátima-oliveira/recadim-eu-entre-esquerda-e-direita-continuo-sendo-preta-1.765100)
, porem eu discordo muito de como as pessoas usam essa frase de forma
descontextualizada ,essa nomenclatura de “direita e esquerda” por si só já é
muito falha , porem como no Brasil se utiliza ela de forma a resumir discussões, vou explicar o por que discordo da frase
me baseando nela .
Basicamente de forma mega resumida e simplificada, no Brasil
utiliza-se esquerda para denominar todos que tenham uma ideologia mais voltada
para ideais progressistas ,como sexualidade, movimentos sociais , inclusão de
minorias como negros, mulheres , Lbtqui+ , etc . E o termo “direita” para
denominarem pessoas que tenham uma ideologia mais conservadora. Porem nenhum
dos lados tem uma visao homogênea , ambos são fragmentados e principalmente
seccionadas em várias vertentes.
Porem eu sempre vi o Rap e a cultura negra , muito atrelada
a causas progressistas por se tratar de dar voz e visibilidade para que
minorias se expressem , então por mais que eu não concorde com vertentes X, Y
ou Z da dita “esquerda” ainda assim acho que entre esses 2 lados o que mais tem
uma representatividade para a cultura negra , seja a “esquerda” . Por sinal
vale a te ressaltar algumas influencias de movimentos “de esquerda” como os Black Panthers por exemplo que
influenciaram muito no Rap, filmes , series , etc , eram abertamente de
esquerda, com um alinhamento politico abertamente comunista , ao ponto de Huey
P. Newton e o Bobby Seale , terem vendido o “Livro vermelho” de Mao Tsé-Tung como forma de arrecadar
dinheiro pra estruturação do partido.
8 - Digamos que o presidente no Brasil tivesse total
poder, qual seria seu primeiro ato?
Olha ,
primeiramente devo considerar que nesse caso , eu não seria um ditador , certo
? caso eu não fosse (vou entrar na utopia) , sem duvidas iria investir 70% do PIB em educação em todos os níveis, e saúde(saneamento, hospitais ,etc.), ia sair
metendo PEC pra tudo quanto é lado a fim
de estruturar isso da melhor forma possível, além obviamente de acabar com
muita regalia da classe dos políticos, questão de 20 anos provavelmente grande
parte dos nossos problemas estariam resolvidos .
Vou
tentar colocar uma de cada área. De livro, sem sombra de dúvidas, Mulheres,
raça e classe, da Ângela Davis, para quem quer uma pegada mais baseada no
movimento negro e tal (o nome do livro já fala por si só).
Uma HQ pra num perder o costume , eu indico Luke Cage,
melhor HQ, tem críticas muito pontuais e não perde o gostinho de cultura geek
que já foi muito citado aqui
Sapiens - Uma breve história da humanidade, de Yuval Harari,
é pra ver como as coisas são, que a gente tá em ciclos, é tipo uma bíblia
moderna pra quem curte antropologia, ciência e tal.
“O mundo assombrado por demônios do Carl Sagan” que por si só é uma critica
muito boa a nossa sociedade atual , além de uma leitura a medida do possivel
bem leve.
As
músicas que eu indicaria são polêmicas pra galera mais raiz , são musicas mais
leves e que estão sempre na playlist do
celular.
Unconditional Love, do Tupac. Pra mim
essa musica trata de algo muito profundo e de uma forma muito adulta , não é um
love song , é quase um dialogo sobre a ideia de uma amor incondicional ,
acredito que qualquer pessoa mais madura ,essa musica pode ajudar muito.
“I Miss You” Aalyah feat Jay-z . É uma
musica que fala de luto , mas não apenas da perda , ela fala do outro lado ,
que é não apenas a tristeza do luto , mas da alegria de ter convivido com essa
pessoa.
Agora BR, Rap Plus Size que é a “Levanta sua cabeça” e Pedagoginga do Thiago Elniño. Tanto a musica do Rap Plus Size , quanto a do Thiago
elnino , são músicasde artistas ainda na ativa e que expressam exatamente o que eu gostaria
que o rap fosse , musicas com criticas pontuais e de fácil entendimento (e
clipes excelentes) , uma lírica fenomenal sem forçação de barra , com um papo adulto e leves para se
ouvir e principalmente com referências a lutas reais rsrsrsrs , com aquele
gosto de uma poesia, que seja o mais
puro Ritmo e poesia que se pode ouvir
“voe como uma mosca , ferroe como uma abelha”
Peço desculpas a todos os outros que não pude cita , a culpa
é do Noticiario Periferico por me dar tao poucas opções rsrsrsrsrs
10 - Tem algo que eu não perguntei que você se perguntaria?
Se sim, já responda.
Eu agradeço muito ao NP por dar a chance de expor minhas
opnioes , por serem esse canal de
informação sempre presente no dia a dia
, continuem assim
E pros fans :
“ Eu percebo que o Rap vem se tornando o que sempre tentou
combater ,uma ferramente de repressão , onde tem uma galera que constantemente destila preconceitos,
contra galera Lgbt+, Mulheres, religiões não cristas , etc , eu acredito que a
maioria faz isso por não ter conhecimento sobre o assunto , então gostaria
apenas que essa galera se informasse um pouco lesse sobre os assuntos que
querem falar , que realmente saiam da zona de conforto que são besteiras de
caras como Bolsonaro , Olavo de Carvalho , etc , o NP é um site informativo com
bastante informação acumulada ao longo desses 10 anos
, hoje com a internet temos diversas formas de acessar as informações ,
então não tem por que não o fazer, creio ser dever de todos lutarmos por um mundo sem preconceitos
e livre de opressões, o Hip Hop foi
criado pra isso , pra ser parte dessa luta, então construam um mundo melhor ”
O Noticiário Periferico agradece pela entrevista Sergio, agradecemos mesmo a
disposição e troca de ideias.
Da hora, parabéns pela iniciativa de entrevistar leitores! O Noticiário Periférico é diferenciado e mil grau!!!
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