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Nem tanta paz assim | Resenha de AmarElo, novo álbum do Emicida



Paz em meio ao caos, mas nem tanta paz assim


Na última quarta-feira, o rapper Emicida lançou o álbum "AmarElo" as 20:30 no intervalo do Jornal Nacional em horário nobre. O álbum conta com a participação de Mc Tha, Drik Barbosa, o humorista Thiago Ventura, Fabiana Cozza, Pablo Vittar, Majur e outros. 

Antes que comece a ler, quero deixar claro que são impressões minhas (Hebreu). Pode ser que o Emicida tenha um visão diferente, afinal a obra é dele. mas o texto expressa minhas impressões e sentimentos.

Amarelo é um álbum de algumas camadas, nuances e sentimentos diferentes, tá ligado? 

Sou um fã real do Emicida e eu estava com uma expectativa grande neste álbum. Com o lançamento dos singles “Eminência Parda” e “Amarelo” eu imaginei um álbum pesado, com várias punchs e fogo nos racistas, fogo no sistema e etc. A primeira vez que dei play no álbum eu fiquei desolado (este foi o sentimento no momento), porque o álbum passa um sentimento de calmaria de que tudo tá bem e os carai. 

Eu pensei: “álbum bom, mas não é o que eu esperava... olha o momento do país, carai". 

Mas trocando ideia com parceiros e parceiras e ideia vai e ideia vem, percebo que o problema foi minha expectativa. No outro dia dei play e já vi de outra forma. Hoje, 1 de novembro eu estou apaixonado pelo álbum e conclui que o álbum não só sobre amor e calmaria. 

Passei um café, peguei meu fone de ouvido e fui na varanda tomar meu café, olhar a quebrada e ouvir o álbum do Emicida. E não foi só o café que estava forte e desceu muito bem, o álbum começou a fazer sentido. 

Amarelo aparenta ser o trabalho mais intimista do Emicida depois de sua Mixtape “Pra quem já mordeu um cachorro por comido até que eu cheguei longe". Neste álbum ele conta histórias do nosso cotidiano, mas ele meio se insere e insere pessoas no contexto e passa o real sentimento da parada. Desde a participação de dois pastores na faixa “Principia”, ao Thiago Ventura que entra antes de uma música que fala sobre amizade, participação de sua filha e de seu filho com a risada mais gostosa do mundo. Eu compreendi, que o álbum representa o momento em que o Emicida está vivendo. Ele não é obrigado absorver as coisas pesadas do mundo e reproduzi-la em música, tá ligado? Este álbum traz um Emicida muito mais maduro, seja como pessoa ou artista. 

A primeira primeira faixa no YouTube/Deezer é a "Silêncio"… como ouvi pelo Spotify, o álbum começa com "Principia" que é linda! Eu gostei de cara, mas tudo na vida tem que ser feito com calma e fui ouvir com atenção. Meu Deus, acabei chorando. O modo como o Emicida fala de amor entre os nosso é um absurdo de lindo! A sensibilidade das falas unida ao instrumental é perfeita! 
E tudo, tudo, tudo, tudo que nós tem é nós
Tudo, tudo, tudo que nós tem é
Tudo, tudo, tudo que nós tem é nós
Tudo, tudo, tudo que nós tem é
Tudo, tudo, tudo, tudo que nós tem é nós
Tudo, tudo, tudo que nós tem é
Tudo, tudo, tudo que nós tem é nós
Tudo, tudo, tudo que nós tem é
Cale o cansaço, refaça o laço
Ofereça um abraço quente
A música é só uma semente
Um sorriso ainda é a única língua que todos entende
(Tio, gente é pra ser gentil) 


Como eu disse, eu estava na varanda que da vista para um lado enorme da minha quebrada e começou a tocar a música "Paisagem", e meio que os versos rimados, me fizeram criar um tipo de filme na cabeça. Talvez pela vista noturna das casas de luzes acesas, os busões passando, as pessoas descendo no ponto, as tiazinhas e o tiozinhos passando no campo pra subir o escadão... tudo isso me fez entender a parada. 
O peso dos dias nas costas brindamos com ferro
Num silêncio que permite ouvir as nuvem raspar o céu
Sem faróis nos faróis, descendentes de faraós ao léu
E a cena triste insiste em te dar um papel
Em algum lugar entre a rua e a minha alma
Estampido e a libido trepa entre gritos de calma
(...)
Em paz
Em paz
Em paz
Em paz
Tudo está em paz
Em paz
Em paz
Em paz
Tudo está em paz 

Pode ser brisa minha, mas essa música descreve o sentimento de muita gente que trampa todo dia, chega em casa e encontra o calor de sua família e tal. Sabe aquele momento que você esquece tudo e relaxa? 

Como eu disse o álbum tem algumas camadas e nuances e ele tem um certo cuidado na ordem das músicas. O álbum começa com uma música foda, com uma mensagem densa, leve, porém muito forte em certos momentos e o álbum vai se desenvolvendo e ficando mais calmo, mais melódico, suave e de acordo com que ele vai chegando ao fim, ele vai subindo de tom e no quesito mensagem. 

Depois da faixa “9nha”, o rapper nos traz a faixa “Ismália". A construção da letra desta faixa é loka demais! Acho que ela merece uma atenção especial só pra ela. 

Primeiro você tem que saber que Ismália é um poema de Alphonsus Guimarães. 

O poema fala que Ismália estava numa torre e sonhava com o céu, mas ele não tinha asas e num momento de loucura e tenta voar, Ismália em vez de ir ao céu ele cai no mar. 

Importante dizer também quem foi Ícaro: Ícaro foi um cara que criou asas de cera e tentou voar, mas ele voou muito alto que suas asas derreteram. 
Na faixa “Ismalia” o Emicida faz uma analogia entre Ismália, Ícaro e o povo preto 
Olhei no espelho, Ícaro me encarou
Cuidado, não voa tão perto do Sol
Eles num guenta te ver livre, imagina te ver rei
O abutre quer te ver de algema pra dizer: Ó, num falei?!
No fim das conta é tudo Ismália, Ismália
Ismália, Ismália
Ismália, Ismália
Quis tocar o céu, mas terminou no chão
Ter pele escura é ser Ismália, Ismália
Ismália, Ismália
Ismália, Ismália
Quis tocar o céu, mas terminou no chão
(Terminou no chão) 
Essa é a faixa mais pesada e ela não destoa do álbum. Depois de te fazer sonhar com a paz, ficar com a mente e coração cheio de esperança, a faixa Ismália chega jogando um balde de água fria na sua cara te falando: Acorda, tio! quem nem tudo é "AMARELO!" 

A “brisa” do Emicida nessa faixa é genial! bem triste, mas é real! 

Já dizia o Kl Jay: “estamos em território inimigo" 

Nesta faixa, o Leandro fala em como muitas e muitas vezes o sistema boicota quem é preto, de como ele nos matam e acabam com nossos sonhos. 

Paisinho de bosta, a mídia gosta Deixou a falha e quer medalha de quem corre com fratura exposta Apunhalado pelas costa Esquartejado pelo imposto imposta E como analgésico nós posta que Um dia vai tá nos conforme Que um diploma é uma alforria Minha cor não é um uniforme Hashtags, Preto No Topo, bravo! 80 tiros te lembram que existe pele alva e pele alvo Quem disparou usava farda (mais uma vez) Quem te acusou nem lá num tava (banda de espírito de porco) Porque um corpo preto morto é tipo os hit das parada Todo mundo vê, mas essa porra não diz nada Olhei no espelho, Ícaro me encarou Cuidado, não voa tão perto do Sol Eles num guenta te ver livre, imagina te ver rei O abutre quer te ver drogado pra dizer: Ó, num falei?! 


Sinceramente eu queria falar mais, mas me falta palavras para descrever tudo que senti ouvindo álbum. Mas resumindo ele nos passa o sentimento de amor para com os nossos, mas também nos alerta de quem são os nossos inimigos. O Emicida meio que nos acalanta do começo ao fim da metade do álbum para depois nos deixar ligado que nem tudo pode ser sonho, tá ligado? É bom sonhar, mas sempre fiquei atento pra não ser mais um Ismália. 

Ouça AMARELO no Youtube ou em sua plataforma preferida.

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1 Comentários

  1. Texto bacana,tentar ser honesto, expressar nossa resistência e provocar nossa reflexão, já que ainda estamos vivos.

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