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Aya Nakamura | Africana, da periferia de Paris e a cantora mais escutada na França

Foto: Inès Manai


De acordo com o último senso, realizado pelo Ministério do Interior francês (2012), a França conta hoje com uma população total de 65,2 milhões de habitantes, dos quais 6% são estrangeiros, e dentre estes 40% são africanos (1.560.000 africanos). Iniciada na colonização da África e ampliada em sua descolonização, esta imigração possui tanto raízes quanto consequências históricas, políticas, econômicas, culturais, além de ser também fonte de xenofobia. Fonte: Conjuntura Internacional. 

AYA NAKAMURA é um dos fenômenos musicais mais fantásticos dos últimos anos. A cantora nascida no Mali e cidadã francesa, faz parte desse grupo que leva a cultura africana pra uma sociedade totalmente eurocêntrica e sexista.  Liberté, égalité, fraternité (Liberdade, Igualdade e Fraternidade) só vale se você for branco, se for homem, melhor ainda.

A cantora já acumula mais de 1 bilhão de views nas plataformas digitais e foi a artista mais ouvida na França em 2019. 

Aya Danioko (se pronuncia aja danjɔko]) nasceu em Bamaki, Mali e imigrou para a França com sua família, crescendo em Aulnay-sous-Bois. Aya vem de uma família de griôs (contadores de histórias da África Ocidental, cantores/poetas da tradição oral), mais velha de cinco irmãos. Estudou moda na La Courneuve. Só depois que Aya adota o nome AYA NAKAMURA, em homenagem ao personagem Hiro Nakamura, da série de ficção científica NBC Heroes. 

Foto: Inès Manai

PRIMEIROS PASSOS (2014-2017) 

Em 2014, a cantora tinha 19 anos quando lançou seu primeiro single chamado “Karma” no Facebook. Logo em seguida, com a ajuda do produtor Seysey, ela compôs a música “J’ai mal”, com uma melodia bem Zouk. O vídeo alcançou mais de 1 milhão de views no Youtube naquela época. 

Em 2015, ela lança o clipe do som Brisé, que foi composta junto com Christopher Ghenda, o clipe alcançou fácil 13 milhões de views na época, hoje o vídeo passa dos 30 milhões. Em seguida, Aya lançou um som chamado “Love d’um Voyou”, com participação do rapper Fababy, que teve muito mais repercussão. 

Em 2016, a cantora assinou um acordo com a Rec. 118, uma gravadora da Warner Music France. No mesmo ano, ela continuou fazendo colaborações e lançou seu segundo single oficial "Super Héros" , com o rapper Gradur . 

Em agosto de 2017, ela lançou seu álbum de estreia chamado Journal Intime , liderado por seu primeiro sucesso de platina, 'Comportement' . O álbum teve certificação de ouro na França. 


Foto: Inès Manai



NAKAMURA E A INTERNACIONALIZAÇÃO DE AYA 

Em abril de 2018, Aya lançou o single Djadja, primeiro single de seu segundo álbum. O single permaneceu 2 semanas consecutivas nas paradas de singles francesas. Além de ser a música preferida da seleção africana na Copa do mundo de futebol de 2018, na Rússia, o som é praticamente um hino feminista, “DjaDja” significa mentiroso e a música confronta homens fanfarrões que fala de falsas conquistas sexuais. 

O fanfarrão existiu mesmo, mas fazer um hino não passou pela cabeça de Aya. "Quando entro no estúdio, digo o que sinto. Não tenho planos preconcebidos ou uma agenda. Esta é a minha personalidade desde sempre", disse Aya numa entrevista por escrito ao JN. "Que tantas mulheres se tenham identificado com a música foi revigorante e incrível", arrematou a artista. 


A música não animou só o verão francês, logo se tornou um sucesso internacional. Ela se tornou a primeira artista francesa nº 1 na Holanda desde Edith Piaf com "Non je ne regrette rien" em 1961. 
O próximo sucesso e single foi "Copines" lançado em agosto de 2018 e entrou em 4º lugar nas paradas francesas antes de subir para o 1º em novembro de 2018. 

Em 2 de novembro de 2018, Aya Nakamura lançou seu segundo álbum Nakamura. Ela se tornou a primeira artista feminina a apresentar 7 faixas de um álbum no top 10 francês simultaneamente. 
Esse álbum lhe rendeu varias indicações e prêmios; como o European Music Moves Talent Award, que ganhou como melhor álbum urbano 

Em maio de 2019, ela foi retratada pelo New York Times , como "um dos acontecimentos mais importantes na Europa, tanto musical como social". 

Em junho de 2019, ela ganhou sua primeira indicação no BET Awards 2019 como Melhor Atuação Internacional, e ultrapassou a marca de 1 bilhão de views no YouTube. 

No verão de 2019, ela ganha impulso com um novo sucesso internacional Pookie (+185 milhões de visualizações do YouTube até o momento). 


No fim de dezembro, a cantora lançou o clipe do som “40%” e já passa dos 30 milhões de views. AYA é um fenômeno! 

A cantora lançou outros vídeos, por isso recomendo muito que visite o canal dela no Youtube para conhecer melhor a obra da cantora africana.

Foto: Inès Manai


POSICIONAMENTO

Como dito no começo a cantora, nasceu no Mali e foi com a família para Paris no primeiro ano de vida. Aya não foge de suas origens, e garante que os bairros periféricos da capital francesa, onde cresceu, influenciaram muito em sua escrita e ritmo. A cantora também se inspira em mulheres 100% seguras em si como: Oumou Sangaré, Aretha Franklin ou Beyoncé. 

Ao ser perguntada sobre a expectativa que ela gera em jovens francesas de origem africana, Aya rejeita rótulos, mas ela diz: "Sou uma cantora e devo ser considerada unicamente uma artista, independentemente da cor. Dito isto, teria adorado como criança ver mulheres negras bem sucedidas na indústria musical francesa. Nós não tivemos isso". 

IDENTIFICAÇÃO, AUTENTICIDADE E RACISMO

Aya é jovem e usa uma linguagem “de quebrada”, urbana. Os jornalistas franceses especializados dizem que seu sucesso se deve ao fato dela “misturar gírias e expressões africanas, espanholas e inglesas”. “Eu canto exatamente como falo com minhas amigas”, afirma Aya. Suas musicas falam de amores, conflitos, traições e fofocas. Em meio a tudo isso, Nakamura defende e mostra uma imagem de uma mulher muito segura de si. 

Hoje ela é, e passa essa imagem de ser segura e ter uma maturidade, mas a cantora enfrentou muitas dificuldades por ser uma mulher negra na indústria musical. Numa entrevista a Fader, ela revelou ter tentado clarear a pele ou usar uma base mais clara. 

Sabemos que em qualquer sociedade eurocêntrica, ser preto é sinônimo de uma pessoa segunda classe. Tudo que vem de um povo em que a sociedade marginaliza causa preconceitos. A cantora passou muito por isso no começo de sua carreira. 

“O que alguns consideram vulgar, para mim é apenas franqueza”, afirmou Aya ao jornal Le Monde. “Eu assumo minha maneira de falar. E, após meu primeiro álbum, me questionei. Percebi que o que agradava meu público era justamente quando eu era franca e quando eu me mostrava [sem pudor].” 

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*OFF

Trecho retirado do texto Influencia dos imigrantes africanos na França escrito pela Júlia Souza Matoso para o site Conjuntura Internacional 

INFLUENCIA MUSICAL AFRICANA NA FRANÇA 

A música é considerada a maior influência cultural africana na França atualmente, tendo como ritmo pioneiro o Raï argelino (LÉNAÏC HUET, 2001). Sua versão pop incorporou instrumentos modernos, adaptando arranjos dançantes e ingressando em uma dimensão mais comercial, o que levou ao alcance do público geral francês (LÉNAÏC HUET, 2001). Por outro lado, o rap americano também foi adaptado à cultura dos subúrbios franceses como mecanismo de contestação social, fazendo sucesso principalmente por meio de artistas migrantes da África negra (LÉNAÏC HUET, 2001). De fato, das 100 faixas de música mais baixadas no iTunes francês em julho de 2015, 41 são músicas francesas, das quais nove pertencem a cantores e/ou bandas de origem africana. Além disso, podem ser identificadas ainda cinco composições executadas por artistas nascidos na África (ITUNES, 2015). 

A língua francesa também tem incorporado, desde a colonização, influências e vocabulários dos novos habitantes. Hoje, este processo se caracteriza predominantemente pela adoção de expressões e gírias, utilizadas primeiramente entre membros das famílias de migrantes na França e, em seguida, difundida nos subúrbios. Com isso, se tornou popular uma nova forma de comunicação entre os jovens, o Verlan[xii], e o uso de palavras de línguas africanas como jargões, que podem ser compreendidas sem a necessidade de tradução por jovens franceses descendentes de europeus ou africanos. Esse movimento pode ser explicado pelo resgate da língua nativa dos pais de migrantes, popularizado entre os rappers e sendo reproduzido pelos jovens na França.

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Neste artigo contem fontes e trechos dos seguintes sites: JN (Português), Wikipedia (Francês), rFI (Francês/Brasil) e o blog Conjuntura Internacional.
Todas a fotos foram retiradas do site TheFader



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