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Joey Bada$$ evoca o Voodoo como um simbolo de revolução igual no Haiti em seu novo clipe?


O povo preto na diáspora vem resistindo há pelo menos 500 anos a ofensivas dos brancos. Neste ano de 2020 por conta do alto numero de pessoas que tem acesso a celulares com câmeras, as perversidades do Estado branco genocida têm sido filmadas em massa e isso tem mais do que nunca revoltado ainda mais o povo preto e tem tido a atenção da mídia. A brutal morte de George Floyd foi a gota d’agua ou o fogo num barril de pólvora para explodir a onda de protesto no Estados Unidos e em diversos lugares do mundo, já que a violência policial não é exclusiva do país do Tio Sam. 

No dia 17 de julho o rapper Joey Bada$$ movimentou a cena com a capa de seu EP “The Light Pack” e o clipe da faixa “The Light”. 



O clipe de “The Light” começa com o rapper participando de uma cerimonia voodoo. Antes do clipe começar, tem uma declaração do rapper que traduzimos. Confira: 

“Em 16 de junho de 2020, escolhi participar de uma cerimônia tradicional de vodu em busca do renascimento. Meu objetivo com esse clipe é inspirar os negros a perceber seu poder e recuperá-lo, como eu fiz. Não tenha medo de quem você é, esse é o trabalho deles. Nós temos poder.” 

Não tenho lugar de fala e nem capacidade para falar sobre o voodoo ou qualquer religião de matriz africana. Mas o pouco que eu aprendi lendo e estudando sobre, quero deixar a minha interpretação sobre qual a mensagem que pode estar passando no videoclipe. 

O Voodoo é muito praticado em New Orleans, no Haiti, Cuba e timidamente no Brasil. De certo modo ele tem uma similaridade com a Santeria ou Candomblé. O mais famoso é do Haiti. 

Primeiro tenho que dizer que o Voodoo Haitiano não é visto só como uma religião, mas algo além do espiritual, alguns haitianos o chamam "Ciência Sagrada", por usarem muito a sabedoria das plantas. E outra, no Haiti o Voodoo é um símbolo de resistência e revolução porque ele foi essencial para a revolução haitiana contra os franceses. 

Desde que os africanos de Guiné, Benin, Nigéria e outros lugares chegaram no Haiti houve revoltas, fugas e formações de quilombos. Os franceses eram conhecidos como “quebra pretos”. O número de brancos na ilha era muito pequeno e a neura e medo de uma revolta era eminente, por tanto os franceses tinha um julgo de tortura mais elevado que em outras colônias pela América. 

Houve um tempo de que um africano de nome Makandal começa a ensinar outros africanos escravizados a ciência e o poder das plantas e ele os ensina a envenenar a comida e a água dos brancos. Makandal era uma espécie de Sacerdote Vodu (Ogã). Makandal acreditava que para vencer os brancos, ele precisaria primeiro matar os negros que estavam alinhados com os brancos, o que o estadunidense chama de “negros da casa” e capitães do mato aqui no Brasil. Ele acreditava que esses assimilados querendo ganhar "confete dos brancos" iria entregar seus planos. Por influencia de Makandal, mais de 6000 mil franceses + assimilados (negros da casa) foram mortos. Ironicamente ele foi traído por um assimilado e morreu em 1751. 

A ação do Mankadal foi uma das sementes plantadas na revolução haitiana. 

“Saiba que a fé é como uma semente plantada no solo; cresce conforme seu tipo. Plante a ideia (semente), regue e fertilize-a com expectativa, e ela se manifestará.” Joey Bada$$ 

No começo do vídeo o Bada$$ diz que ele participa da cerimonia tradicional voodoo em busca de um renascimento e com o objetivo de inspirar os negros a perceber o poder que tem e recupera-lo. Fazendo um pequeno paralelo com a revolução haitiana quero falar sobre Dutty Boukman

Fotografia do clipe

Dutty Boukman chegou à ilha vendido pelos ingleses, pois sua mãe era líder de uma revolta na Jamaica e em castigo a ela, ele chegou na ilha com 13 ou 14 anos. Seu apelido ficou conhecido por Boukman porque ele tinha um livro na cintura (um corão) ele provavelmente era de origem muçulmana. Os brancos queriam tomar seu livro e ele não deixou e os brancos queimaram o livro junto de seu corpo. Após isso ele ficou conhecido como “O homem do Livro”. (Boukman) 

Depois do Makandal, Boukman surgiu como um novo líder da revolta haitiana. Em agosto de 1791, Cécile Fatiman presidiu a cerimonia no Bois Caïman no papel de mambo (o termo mambo deriva da palavra Fon nanbo "mãe da magia") junto com o Dutty Boukman. Boukman profetizou que os escravos Jean François, Biassou e Jeannot seriam líderes de um movimento de resistência e revolta que libertaria os escravos de Saint-Domingue/Haiti. Um porco preto foi sacrificado, um juramento foi feito, e Boukman e a sacerdotisa exortaram os ouvintes a se vingarem de seus opressores franceses e a deixarem de lado a imagem do Deus dos opressores. Vale lembrar que já existia africanos no Haiti que cultuava o Deus dos brancos e todos abandonaram em prol da luta da libertação do povo preto. Desde então os haitianos perderam o medo da morte, dai que vem a chave para vencer os franceses não temer a morte. Até porque morrer significavam voltar para os ancestrais, na África. 

As tradições orais dizem que Boukman proferiu uma espécie de oração e também evocou Ogun, o orixá da guerra. Um dos entrevistados do documentário “A História Oculta do Haiti” diz que em evoca Ogun, não o evoca por paz, porque Ogun é o Orixá da guerra e não da paz. Boukman não foi o que libertou o povo Haitiano, mas foi através de sua liderança e a cerimonia junto com a mambo Cécile que deram força e coragem para o povo do Haiti dar continuidade a revolução mesmo após sua morte. 

Segue a oração proferida por Boukman:

Após a cerimonia toda a planície do norte estava em chamas, enquanto os revolucionários conduziam atos de revolta contra os brancos.


Para saber mais sobre a Revolução no Haiti assista ao Documentário 1804: “A história Oculta do Haiti  | Parte 1 e Parte 2

DITO TUDO ISSO, BORA PARA MINHA IMPRESSÃO SOBRE O CLIPE: 

A impressão que eu tive é que o roteiro do clipe do Bada$$ é totalmente influenciado neste período da revolução haitiana. Me parece que o rapper evoca o voodoo como símbolo de resistência preta e revolução em seu novo clipe. 

Se liga: 

O clipe começa com uma cerimônia voodoo, após a cerimônia, o rapper está com um semblante mais confiante e destemido, com fogo nos olhos e todo de vermelho. A cor vermelha e o fogo podem estar simbolizando Ogun, Orixá guerreiro. Alguns comentários na internet dizem que poderia ser Xangô também. 

Se você reparar ao longo de sua performance no clipe, o rapper vai absorvendo o fogo e no fim do clipe com o corpo em chamas e cheio de poder, com os olhos refletindo fogo e um semblante de quem quer guerra ao sistema branco, o rapper entra no departamento de polícia. Dando a entender que ele vai vingar todo os irmãos e irmãs mortos ou oprimidos pelo sistema supremacista branco. 


Assista ao clipe e tire suas conclusões:

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