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CRIOLO no cinema ..? com Ney Matogrosso, Alessandro Buzo e Spike Lee

Criolo no filme do Spike Lee?!? Isso mesmo. O MC brasileiro participa do documentário Go Brazil Go, que o diretor americano está filmando sobre o país, ao lado de nomes que vão de Pelé a presidenta Dilma
Criolo no filme do Ney Matogrosso? Pois é. Com estreia prevista para maio, Luz nas Trevas é a continuação de O Bandido da Luz Vermelha e tem Ney no papel principal. Criolo é figurante no presídio.
 
Criolo como protagonista de longa? Sim. O filme é Profissão MC, de Alessandro Buzo e Tony Nogueira e saiu em DVD.
 
Sem nenhuma experiência anterior, Criolo me conta sobre seu método de atuação: “Conversar com o Buzo a cada momento, ver o que ele queria a cada passagem, saber o que estava na cabeça dele. Aí, eu chegava e fazia”.
 
Profissão MC foi feito na raça, sem lei de incentivo. É uma obra de ficção com registro quase documental e não-atores no elenco. 
 
Tirando proveito de sua experiência como MC, Criolo improvisou bastante. “Tive liberdade total, desde que não saísse do que o Buzo tinha pensado para cada situação. Eu criava no meu linguajar… Não tinha isso de ‘decore essa fala’.”
 
Bem à vontade no papel de um cara da periferia que precisa escolher qual caminho tomar, Criolo até que se safou.  Será que pensa em outros trabalhos como ator?
 
“Como ator, não existo. Existe eu flertando vez ou outra com essa sétima arte, mas sempre de um modo muito brando e com muitas pessoas dando apoio. Você pode ver isso até pelos meus videoclipes, tanto o ‘Subirusdoistiozin’ quanto o ‘Freguês da Meia Noite’. São flertes.”
 
Não só nos videoclipes. É nos palcos que Criolo descarrega sua intensidade dramática.
 
Eu vi João do Vale e Ian Curtis baixando no Criolo. O transe do vocalista do Joy Divison com a gana nordestina do nosso carcará. 
 
Era show de lançamento de Memórias Luso-Africanas, de Gui Amabis. Criolo cantou duas músicas do disco que tem letras suas: “Orquídea Ruiva” e “Para Mulatu”. 
 
 
Era o mesmo Criolo que já foi Doido em Ainda há Tempo, disco de estreia? E que já cantou “Samba da Benção” (Baden/Vinicius), de óculos de grau, num especial de TV? O mesmo Criolo que faz de cada show da turnê Nó na Orelha, o segundo disco, um espetáculo de emoção e fúria?
 
Sim, o mesmo. Mas sempre diferente. No modo como ocupa o palco, os gestos, a interpretação de cada palavra, a pausa. Ele pode ser gaiato, sacerdotal, doce, veemente… Criolo é o que a música pede, assim como o ator a serviço do personagem.
 
“Quando eu subo no palco eu nunca sei o que vai acontecer. Não é pensado. Eu não poderia falar nem que é uma atuação. É muito visceral. É espontâneo. Mesmo no momento mais calmo, a cabeça tá a milhão… Eu sei o porquê de ter feito aquelas canções, só isso já me emociona.”
 
O envolvimento de Criolo no filme Profissão MC também é emocional.
 
“Tava todo mundo ali por essa questão. De contribuir com um amigo que sempre fez coisas boas pra cidade de São Paulo, sempre fez coisas boas pro Itaim, sempre levou arte, cultura e entretenimento de várias formas, dando espaço para vários jovens se manifestarem e terem contato com outras artes.”
 
 
Você já deve ter visto o Buzo no telejornal SPTV, onde todo sábado ele apresenta matérias sobre cultura da periferia. Antes disso, ele era responsável pelo quadro Buzão – Circular Periférico, no programa Manos e Minas, da TV Cultura. 
 
Alessandro Buzo é um “Suburbano Convicto”. Deu este nome à sua livraria, que fica no Bixiga, e ao espaço cultural, que mantém no Itaim Paulista, com uma biblioteca permanente e onde realiza oficinas, debates, exibições de filmes e um sarau mensal. Nas ruas do Itaim, ele já organizou, desde 2004, 24 edições do festival de hip hop Favela Toma Conta. Tudo gratuito. Na raça e sem grandes apoios financeiros. 
 
Buzo também é escritor. Tem 9 livros publicados e se prepara para lançar o décimo este ano, baseado no filme Profissão MC, que roteirizou, produziu e dirigiu, ao lado de Toni Nogueira, da DGT Filmes. 
 
O filme conta a história de um rapaz da periferia que desempregado, com a mina grávida, se vê numa encruzilhada: tem de escolher entre a música, seu sonho, e o tráfico, dinheiro rápido. Lançado em 2009, Profissão MC ganhou diversos prêmios e continua sendo exibido em mostras e cineclubes espalhados pelo país. “Está bombando no YouTube e nem fomos nos que colocamos. Vai vendo”, conta Buzo. 
 
No papo abaixo, ele fala sobre as gravações do filme e o que o livro trará de novo nessa história. 
 
 
Como pintou o convite pra escrever um livro baseado no filme Profissão MC? 
 
ALESSANDRO BUZO – Não existia a ideia desse livro, meu último lançamento Dia das Crianças na Periferia (meu primeiro infantil) foi meu nono livro. Sabia que o próximo tinha que ser um baita romance. A editora pintou, garantindo lançamento e com a ideia, aceitei na hora.
 
Você acrescentou outros personagens, situações?
 
ALESSANDRO BUZO –  O livro começa bem antes do filme. Como os personagens, crianças, foram morar no Itaim Paulista. O pai do PRETO (Criolo, no filme) é líder comunitário e graças a ele a favela não foi expulsa na época que o Hipermercado foi construído. A favela em que filmamos é mesmo assim, entre o mercado que tem lá e o trem. 
 
Em que pé está? Qual a previsão de lançamento?
 
ALESSANDRO BUZO – Eu terminei, até no final do mês chega o prefácio do Criolo e orelha do Daniel Ganjaman. Previsão de lançamento, segundo a Editora NVersos, é no segundo semestre de 2012.
 
E a ideia do filme Profissão MC? O Toni estava junto desde o inicio?
 
ALESSANDRO BUZO – A ideia era minha, argumento, roteiro. Trabalhava na DGT FILMES, produtora do Toni. Comecei como FAZ TUDO e GANHA POUCO, a meu pedido. Depois eles começaram a ir filmar meu FAVELA TOMA CONTA. Na sequência pintou da DGT fazer meu quadro no Manos e Minas da TV Cultura, foi um projeto deles, escrito pelo GAG.
 
Passei um ano falando do projeto do filme, como não tinha dinheiro, não era prioridade. De tanto eu falar, um dia o Toni disse: “Esquece a DGT no momento, vamos fazer o filme EU E VOCÊ”. Escalei o elenco e passei a filmar. O Tiago Pastoreli editou, muitas vezes, fora do horário comercial. Ficávamos até de madrugada.
 
 
A gente sabe que o filme não é autobiográfico. Mas o tipo de encruzilhada de que o filme trata acontece muito entre os jovens da periferia, né?
 
ALESSANDRO BUZO – Aconteceu comigo, deve ter acontecido com o Criolo. E tantos outros. Seja no Itaim Paulista, minha quebrada, ou no Grajaú, quebrada do Criolo. Seja em tantas outras… Poucas opções de lazer e cultura. Em bairros como o Itaim Paulista são 450 mil habitantes e investimento zero em cultura.Tento montar lá um espaço permanente de cultura, mas não consigo apoio. O filme é isso na ficção e eu te afirmo que é igual na realidade. Falta muita coisa. A diferença hoje é que os mano tão começando a escrever projeto, edital. Coisa que os boy faz há séculos.
 
Como você escolheu o elenco? Chegou a fazer testes ou algum tipo de oficina com eles?
 
ALESSANDRO BUZO – Zero teste e oficina. Liguei pro CRIOLO expliquei a história do filme, que ele seria protagonista, ele perguntou: “Por que eu?” Respondi que tinha de ser alguém das ruas, o nome PROFISSÃO MC é muito forte, não podia ser um ator, tinha que ser um MC de verdade e das ruas. Ele topou. Disse que ele teria um amigo do bem e outro do mal. Ele sugeriu que o do bem, que levaria ele pro hip hop, fosse o DJ Dan Dan, que já era e é o DJ dele na vida real. Aceitei. O amigo do mal era da quebrada, meu amigo Da Antiga. O que trampou com ele na boca, o Neto, também é da quebrada. Tem uma cena, da moto, que é o irmão do Criolo pilotando. Várias cenas foram filmadas uma única vez, pra facilitar a edição. Como não tínhamos dinheiro, tínhamos que ser práticos. Filmamos só 8 dias: 5 na quebrada, um na Fundação Casa Encosta Norte (Itaim Paulista), outro no Teatro Franco Zampari (Manos e Minas) e ainda um dia na Rinha dos Mc's. Foi pau no gato, vários figurantes entraram na hora. A tiazinha que fala um monte pros bandidos chama mesmo Dona Neide e mora ali debaixo do viaduto (numa casa), onde a cena estava sendo gravada. O carcereiro numa cena é um fotógrafo da FOLHA que tinha ido fazer uma foto pra matéria do AGORA SP.
 
Como foi fazer um filme sem grana e sem experiência? 
 
ALESSANDRO BUZO – Experiência eu tinha de co-dirigir meu quadro da TV Cultura nas ruas – faço isso até hoje na Globo. Sem grana, foi como tudo que eu já tinha feito: eventos, livros… Estava acostumado. Um repórter perguntou no auge do filme: “Quer ensinar os grandes cineastas a fazerem filme sem dinheiro?” Respondi que não, quero aprender com eles a fazer com dinheiro. Lancei em 2009 e até agora nada de dinheiro pro meu segundo filme, tenho dois roteiros.
 
Qual foi a sequência mais complicada de filmar? Tem alguma historia curiosa que rolou durante as filmagens?
 
ALESSANDRO BUZO – Histórias foram várias. A Fundação Casa no dia da filmagem ainda não tinha autorizado. O diretor da unidade disse: “Vem, Buzo, filma que eu seguro o BO se tiver”. Fomos e filmamos, esvaziamos uma cela com uns 20 internos e colocamos lá dentro nossos atores, tão inexperientes quanto eu. A exibição debaixo do Viaduto da China (divisão do Itaim Paulista com São Miguel), com telão, foi outro momento mágico.
 
Cena gravada na Fundação Casa Encosta Norte
 
O filme foi todo realizado no Itaim Paulista. Como a comunidade se envolveu?   
 
ALESSANDRO BUZO – A comunidade local, da favela do D'Avo (no livro chama-se D'Tia), entrou de corpo e alma, eu já conhecia a favela, fiz 2 Favelas Toma Conta ali.
 
Quem ainda não viu o filme, como faz? Ainda tem DVD pra vender na livraria Suburbano Convicto?
 
ALESSANDRO BUZO – SIM, R$ 15,00 o DVD e frete R$ 7,00, enviamos pra todo país. Só entrar em contato: suburbanoconvicto@hotmail.com
 
Falando na livraria, como você tem feito pra conciliar essa agenda de agitador cultural e repórter da TV Globo?
 
ALESSANDRO BUZO – Simples: o Buzo da Globo é no dia que eu vou filmar, geralmente final de semana e aos sábados quando vou ao estúdio; resto do tempo sou o mesmo Buzo militante de sempre.
 
Você já vinha retratando a cultura na periferia desde Manos & Minas, na TV Cultura, mas agora ganhou mais visibilidade. Já surgiram ideias para outro filme?
 
ALESSANDRO BUZO – SIM, tem o Profissão MC II, com outra história de superação dentro do hip hop, não a continuação com o CRIOLO. Outro roteiro são quatro curtas baseados nos contos do meu livro Do Conto à Poesia. Juntos eles fazem um longa, tipo 5x Favela. Mas são curtas com direção minha e do francês que mora em São Gonçalo-RJ, Bruno Tomassin.
 
Pra encerrar, o que o hip hop significa na sua vida?
 
ALESSANDRO BUZO – Hip hop é a minha vida.
 
 
By Terra Escrito por Lorena Calabria

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