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Entrevista - Opinião Periferia com a Jornalista "Paula Farias" do Portal Rap Nacional.


Hoje no Quadro "Opinião Periferica" tive o prazer de Entrevistar a Jornalista,assessora e Ativista no Rap, "Paula Farias".
Sem falar muito deixe que ela se apresente e mostre suas ideias e seus ideiais.
 
1-Hebreu - Primeiramente se apresente quem é a Paula Farias?

Quem sou eu ? (risos) tenho 24 anos, moro no Grajaú, extremo sul da capital paulista, sou jornalista e trabalho com Rap no site Portal Rap Nacional, na revista Rap Nacional e com assessoria de alguns grupos e eventos de Rap.
Eu comecei minha militância em um movimento social focado na questão racial, cursinhos comunitários e agora estou no Hip Hop, mas precisamente no Rap.
2-Hebreu - Como e quando você teve contato com o Rap ? Você lembra do primeiro Rap que você escuto ?

Cresci no extremo sul, década de 90 com o rap fazendo eco, Racionais sempre foi a trilha sonora da quebrada. Meu pai, que nem é fã de rap, tem um vinil do Racionais e do NDEE Naldinho, esses foram meus primeiros contatos com o rap, dentro de casa e pela vizinhança. A partir daí foi como uma convocação pra guerra, entrou no coração e tudo isso ja faz mais de 10 anos.
 
3-Hebreu - E quando você começou o seu envolvimento efetivamente com o Rap?

 Eu sempre acessei o Portal Rap Nacional, nem tinha pc em casa, mas ia até uma lan house usar.
E em 2009 começou minha parceira com o Portal Rap Nacional, nessa época eu tinha acabado de entrar na faculdade, tinha comprado um pc estava melhorando a situação.
Lembro que teve um show do Detentos do Rap, no ginásio do Palmeiras, volta do Mano Reco, eu vi a notícia no site e fui ao show.
Isso foi em 2009, quando cheguei em casa feliz da vida,eu escrevi uma matéria sobre o show e mandei para o fale conosco do site, queria contar para o mundo tudo que tinha visto naquela noite.
Para a minha surpresa a esposa do Mandrake, a Elaine Mafra, gosto do meu texto e pediu pra publicar, eu quase desmaiei de emoção (risos) minha primeira matéria de Rap no Rap Nacional e de lá pra cá nossa parceria só aumentou, graças a Deus.
Isso mostra que não podemos esperar as oportunidades caírem do céu, precisamos ir a luta eu fui sem pretensão alguma, mas Deus põe a mão e abençoa quem corre pelo certo.
 
4- Hebreu - Quem são as pessoas fora ou dentro do Rap que você admira ?

No rap são vários, porém só vou citar uma nome Mano Brown, ele é a raiz.
Pessoas que admiro e são de fora do rap, são jornalistas que fazem o diferencial. Gosto muito do Caco Barcellos, do Mino Carta, da Revista Carta Capital, Nilton Viana, do Jornal Brasil de Fato, a equipe da revista Caros Amigos são profissionais que fazem um jornalismo militante.
Tem também os escritores  Ferréz, Sérgio Vaz, Buzo que fazem trabalhos em prol da periferia.
Entre muitas outras pessoas que dentro do seu projeto do seu trabalho ajudam a população levando conhecimento, através do Rap, de um livro ou uma matéria.

 5- Hebreu - Como o Jornalismo entrou na sua vida ?

Em 2005 eu fazia um cursinho pré vestibular comunitário todo domingo,  das 8 ás 18h, super puxado, foi lá que descobri que queria ser jornalista. Sempre gostei de ler e escrever, que é o básico para quem quer seguir a carreira. E amadurecendo as ideias percebi que conhecimento é poder, que tudo gira e torno da informação e que no Brasil, assim como em outros países da América Latina, os meios de comunicação são concentrados nas mãos de grupos que defendem interesses particulares e manipulam as informações de acordo com seus interesses.
Então descobri que queria ser jornalista para ser um diferencial, temos que ter gente vindas do povo, em todas as áreas, na comunicação, no direito, na educação etc, para que as coisas possam ser mudadas, do contrário eles (a elite) continuarão mandando em tudo. 
E depois de três anos tentando conseguir minha bolsa do Prouni e me formei em jornalismo no final de 2012.

6-Hebreu - Como ouvinte e atuante como ele refleti na sua vida no seu dia a dia?

O Rap é minha trilha sonora, impressionante para cada momento tem uma música que encaixa perfeitamente.

7-Hebreu - Você com certeza acompanhou o rap dos anos 90, nesta época o rap era extremamente machista. Você acha que hoje está mais fácil, para as mina cantarem rap? Ou o machismo ainda Impera?

Os anos 90 acompanhei apenas como fã, não posso dizer com prioridade como era.
Mas vivemos ainda em uma sociedade machista como um todo, na qual as mulheres mesmo ocupando o mesmo cargo que os homens ainda recebem salários inferiores.
Ainda há  diversas formas de violência contra as mulheres, física, sexual e o assédio moral.Dessa forma, a emancipação feminina é uma luta constante dos movimentos feministas.
Na questão da música, eu acho lindo vê uma mulher cantando rap, atualmente são poucas as minas que cantam, é complicado porque é uma jornada muito intensa, ser mulher, esposa, mãe, trabalhar dentro e fora de casa e ainda cantar. Imagino as dificuldades que essas guerreiras enfrentam.
A luta pela auto afirmação das mulheres é diária, e o Rap devido a sua origem tem que ser um instrumento nessa luta contra o machismo. Nunca presenciei um ato de machismo no rap, mas se algum dia acontecer com certeza irei relatar.

8-Hebreu - Você vive do Rap ou do jornalismo ?

 Dentro do Rap eu faço jornalismo, eu não separo Rap do jornalismo, pois o meu trabalho é jornalístico.
Mas além, do trabalho como jornalista que eu desenvolvo com o rap eu trabalho com outras demandas jornalísticas em outros locais.Já trabalhei na prefeitura, no movimento sindical, estamos aí na luta.

9-Hebreu - Você é Contra ou a Favor do Rap nas Grandes Midias ..?

Eu já fui bem radical. Hoje em dia amadureci as ideias e ampliei a visão.
Se um grupo de rap for convidado para participar de um programa de televisão, por exemplo, acho que o grupo deve analisar o convite, para pensar em que essa participação irá ajudar no seu trabalho.
E caso o grupo aceite, desde que o grupo cante suas músicas e mantenha sua postura, creio que não há nada de errado, ressaltando que há vários tipos de programas, nem todos são ruins da mesmo forma que nem todos são bons. As pessoas as vezes se esquecem que além da Globo há outros canais de televisão, o que acontece que os canais bons são pagos, o que dificulta o acesso, mas isso é outro debate.
O rap precisa ser tratado como música, e alcançar mais público, isso é importante para a evolução e sobrevivência.
Não podemos viver de sonhos, o rap já perdeu muitos talentos por falta de estrutura, essa é uma realidade que precisa ser encarada.
Mas tudo deve ser analisado com calma. Eu me lembro muito bem do Sabotage indo ao programa Altas Horas e sempre sendo ele mesmo, representando o rap, as favelas e isso é motivo de orgulho para todos nós.
A questão não se resume em simplesmente ser contra ou a favor, é muito mais complexo que isso. E varia de acordo com o perfil de cada grupo de cada rapper. A grande mídia nunca esteve aberta para o rap, por milhares de motivos, então é bom tomar cuidado e pensar com calma.
Mas também não vou condenar ninguém cada um escreve sua história
.Além disso, o rap construiu sua própria mídia e esses veículos precisam ser valorizados.
 
10-Hebreu - Por Falar em Midia, o  Portal Rap Nacional, do qual você também trabalha está com a Revista Rap Nacional (Física) você acha que este tipo de midia ainda funciona ele da um Retorno? Mesmo com as midia socias e internet?

As novas tecnologias são fantásticas, mas nada tira o prazer de segurar e folhear uma revista.
E na revista é possível fazer grandes reportagens, se aprofundar em temas, textos bem trabalhados. Já na Internet e nas redes sociais isso não é possível, pois quem está na rede quer agilidade, notícias rápidas, esse é o perfil da Internet, são muitas informações ao mesmo tempo, quanto mais sucinto melhor para o internauta.
Sendo assim, uma coisa não atrapalha a outra, pois na comunicação há várias formas para se trabalhar, para atender ao mais variado público. 

11-- No meu tempo de escola meu Professor de Literatura dizia que num futuro as letras de Rap seriam debatidas nas escolas e realmente isto aconteceu. Vi que no seu TCC de Faculdade você fez Sobre o Rap. Você Poderia falar Sobre ele?

Eu escrevi um livro-reportagem, no qual abordei a relação do rap com a grande mídia no Brasil.
Entrevistei alguns rappers antigos e alguns novos mc's e fiz um debate, fiz uma contextualização da origem do Hip Hop e consequentemente do rap desde os guetos americanos até a chegada ao Brasil.
Já que para entender a importância do tema, rap e mídia, é preciso conhecer a raiz do movimento.
O trabalho foi bem fascinante e satisfatório, eu consegui levar o rap para dentro da universidade,  de todos os trabalhos que foram feitos na minha turma o meu foi o único que abordou tal tema, pra mim isso é uma honra. Temos que ser quem somos em qualquer lugar, onde quer que eu vá o rap, estará sempre comigo. 
Esse livro que eu pretendo lançar em breve, creio que irá contribuir e muito para o rap como um todo.

12-Hebreu - O Rap dos Anos 90 era bem Politizado.. "Eu sou fruto desta geração que aprendeu a ter orgulho de sua etnia e de onde veio". Você não acha que o rap de hoje perdeu um pouco Disto..? Você acha que num futuro próximo isto vai refletir de um modo negativo ..?

Realmente o rap ensinou ao moleque da periferia a ter orgulho de sua cor e de sua origem.
O rap continua sendo contestador, abordando a questão da negritude, da violência em suas letras, o que aconteceu é que nessa era dos anos 2000, surgiram várias vertentes do rap, isso é importante, pois somos um  estilo musical oriundo do Hip Hop, que é formado por 4 elementos, ou seja, diversidade.
Se existe um leque de mc's, que em suas rimas abordam temas mais amenos, por outro lado ainda há vários grupos que seguem a linha da contestação dura, em suas letras. Diante desse universo de estilos, cada um escuta o que gosta, o importante é manter o respeito.
Quanto a refletir de forma negativa, creio que não, porque a diversidade é algo positivo, se todos pensassem igual e cantassem igual será muito chato (risos) é importante para a evolução do ser humano ter contato com pessoas diferentes, isso agregar mais conhecimento.
Um cara que escolhe cantar rap, já faz um ato contestador pelo simples fato de optar pelo rap, ele poderia escolher outro estilo musical,
depois qual linha ele vai seguir, é outra história.
Se eu, como público, achar que o som de tal rapper é ruim, que as ideias são ruins, eu simplesmente não vou comprar o CD dele, não vou ao show dele e pronto. 
Acho que nos dias atuais, com a internet ao alcance de várias pessoas, muitos perdem tempo criticando quem não gosta e esquecem de fortalecer o trabalho do grupo que gosta. Eu particularmente prefiro postar no facebook, por exemplo, um vídeo de um grupo que eu gosto, do que perder meu tempo falando mal dos outros.
O rap me ensinou a ter respeito e fazer o bem.  Outra coisa cada um será lembrado por aquilo que fizer, cada um escreve sua história, alguns serão eternos outros serão facilmente esquecidos. 

13-Hebreu - Além do Rap o que gosta de escutar?

Eu gosto de MPB, samba, amo Raul Seixas até música evangélica eu escuto vária bastante.

14-Hebreu - Você acha que "Literatura Marginal" já faz parte de um dos pilares do Hip Hop assim como o rap,mc,dj e o grafite ? Por que?


A literatura marginal é complemento ao Hip Hop, é de extrema importância, mas não é um quinto elemento.
O Hip Hop é formado por quatro elementos, o vem surgindo depois são complementos que ajudam a enriquecer a cultura, na minha opinião.

15-Hebreu - Copa do Mundo 2014 e Olimpíada 2016 e eu li que o Brasil vai empresta ou Ajudar a Europa com 10 Bilhões reais... Estranho.. não..? Será que não a Desigualdade Social no Brasil..? Será que não tem Mendigos, não a gente passando Fome? O que acha Disto?

Primeiro você tem que verificar em qual veículo de comunicação você leu essa matéria. Depois tem que ser feita uma analise crítica do assunto, não vivemos isolados no mundo, se o Brasil fez esse empréstimo foi dentro de acordos internacionais, algo comum na política.
 Desde a eleição do ex-presidente Lula o Brasil avançou em politícas sociais, milhares de brasileiros saíram da pobreza extrema e o trabalho continua sendo feito pela então presidenta Dilma. Devemos nos lembrar que o Brasil foi uma território invadido pelos portugueses, transformado em colônia de exploração, na era mais recente vivemos 21 anos de ditadura militar, 8 anos com o péssimo governo do liberalismo do FHC, nossa história é complexa. Infelizmente os problemas  estruturais não serão resolvidos num passe de mágica, a política é cheia de artimanhas.
Por isso, nós enquanto sociedade, precisamos cobrar do governo, mas tomar cuidado pois, há muitas manipulações de informações.
Quanto a realização da Copa do Mundo e das Olimpíadas no Brasil, claro que eu preferia que toda  a verba que será usada para esses eventos, fosse destinada para a educação, saúde etc, mas já que esses eventos irão mesmo acontecer eu espero que tudo ocorra bem, pois o mundo todo estará de olho em nós, e eu como brasileira, apesar de tudo, amo meu país.  

16-Hebreu - Não sei se esta "Apar" do Assunto, mas o que você acha do Sistema de Cotas Raciais? Você é Contra ou a favor ? 

Extremamente a FAVOR.
Como já falei na resposta anterior a história do Brasil é muito complexa, vivemos mais de 400 anos de escravidão, e as sequelas dessa barbárie é o racismo que ainda existe na nossa sociedade, mesmo que alguns hipócritas digam que não, o Brasil é um país racista, infelizmente.
As ações afirmativas, são políticas emergênciais, as cotas raciais, nas universidades públicas é necessário, já que a educação pública é de péssima qualidade, então as cotas é uma forma de amenizar o fosso que há entre uma estudante de escolha pública e outro de escola particular que vão disputar uma vaga na universidade.
Não dá pra esperar até que o ensino público seja reformulado, pois há toda uma geração, já adulta, que precisa estudar agora e não pode esperar. Aí entra as cotas como forma de ajudar.
O projeto de lei de cotas nas Universidades Federais, sancionado pela presidenta Dilma, ano passado, é uma grande conquista dos movimentos sociais, pois 50% das vagas serão destinadas a estudantes que fizeram o ensino médio em escola pública, dentro dessa reserva entra os quesitos renda e etnia.
Ou seja, a lei que cotas beneficia há todos, estudantes pobres brancos, negros e indígenas isso é uma grande conquista. Eu costumo dizer que as cotas é como uma analgésico, para ajudar  a conter a dor enquanto a cirurgia não acontece.

17-Voce é uma das Organizadores do "Gangsta Paradise", um ótimo evento de rap de São Paulo. Com a carência de festivais de rap.. que há, qual a importância deste evento..? É verdade que terá em outros estados ou cidades?

Eu sou assessora de comunicação do Gangsta Paradise, pra mim isso é uma honra, trabalhar ao lado do Douglas R.C e do DJ Bola8, no maior festival de rap de São Paulo, na atualidade, que tem movimentado a cena.
O GP consegue mobilizar pessoas de várias regiões do Brasil, caravanas do Paraná, Espirito Santo, Minas Gerais sempre marcam presença, ainda há pessoas de outros estados como  o Rio Grande do Sul, Ceará quem vem sozinhas ao show. É claro que o público do interior paulista também comparece em peso, Itú, Campinas a cidade de Santos. São muitas pesosas que vem para o show, porque amam o rap e sabem que terá uma grande estrutura e que o esforço valerá  a pena.
Quando acontece um GP todos ganham, em dia de show a Galeria da 24 de Maio fica lotada, com as caravanas, as pessoas sempre vão lá antes do show. Além disso, o GP abre espaço para grupos de outros estados, o grupo Tiagão e os Kamikazes do Gueto já cantaram no Gangsta , recentemente foi a vez do Facínora MC'S, que está em destaque no momento, ou seja, grupos do Paraná cantando em São Paulo, essa conexão é importante para o rap, a tendência é trazer outros grupos de outros estados.
E há também a ideia de levar o GP para outros estados, mas para isso precisa-se de parcerias, pois os gastos são altos, mas com fé e perseverança logo mais teremos essa grande festa em vários locais do Brasil.

18-Hebreu - Digamos que Presidente no Brasil Realmente Mandasse, qual seria seu Primeiro ATO?

Nossa que pergunta forte.
Iria fazer uma reformulação nas concessões das emissoras de televisão, iria democratizar a informação no Brasil, criar leis para impedir que diversos veículos de comunicação fiquem nas mãos de poucas famílias.
A revolução iria começar por aí, porque informação é poder.

Pra terminar a entrevista indique 3 Livros, 3 músicas e 3 álbuns que você goste..

Difícil escolher apenas três (risos), mas vamos lá
Livros: Rota 66, Caco Barcellos,
Capão Pecado, Ferréz,
A sociedade do Código de Barras, Preto Ghoéz
Músicas: Vida é desafio, Racionais MC'S
Quem sabe um dia, Realidade Cruel
Brasil com P, GOG
Álbuns : Nada como um dia após outro dia, Racionais MC'S
O Peso das Palavras, Facínora MC'S
Mudança, Inquérito

Obrigado Pela Entrevista Paula, agradeço mesmo. Deixe seu Recado aos Leitores.

Quero agradecer a oportunidade de trocar essa ideias com vocês, é sempre interessante trocar de lugar em vez de entrevistar ser a entrevistada.
Espero que esse diálogo continue em outras oportunidades, pois estamos do mesmo lado da luta.
Que 2013 seja um anos de conquistas para o nosso povo, mas lembrando que nada é de graça é preciso batalhar.

Forte abraço a todos.



Contato da Paula Farias

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1 Comentários

  1. Muito bacana a entrevista. Parabéns à produção e Paula Farias, pessoa boníssima, que mesmo sendo da concorrência (risos) faço questão de correr junto sempre que posso. Abraços e longa vida ao Rap!!! Paz.

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