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Entrevista com o rapper e historiador Gegê Caos


Credito da Foto - Leo Souza

O mano Gegẽ Caos nesta entrevista, fala sobre como começou no rap, sobre o rap na atualidade, sobre a situação do pais para o povo Preto, sobre seu trabalho,tanto como rapper como Historiador, dentre outras fitas.
Uma Otima Entrevista não só por causa das perguntas, mas sim pelas respostas bem aticuladas, com ideiais sem curvas, ideiais diretas. Confira a Entrevista com o rapper Gegê Caos.

Para começar bem, se apresente quem é o Gege Caos?
R: Satisfação é a minha mano. Gegê é Mc, é Professor, é Educador, pai, filho e irmão mano. Um mano simples com ambições simples certo? Rs... Gegê é também remanescente de um povo forasteiro, que atravessou o atlântico, do reino de Adjá para as terras de cá. Esse é o conceito básico do trabalho e do nome.
Quando você conheceu o Rap e o Hip Hop em si ..?
R: Conheci o RAP através do meu irmão mais velho que tocava umas pérolas nos finais de semana em casa e em algumas festinhas por ai, mas o Hip Hop mesmo, eu conheci no final de 1990, quando ‘eu cai’ pra dentro. Podemos dizer assim, porque antes eu só acompanhava né titio. Neste período parecia um viciado em crack, tudo pra mim era Hip Hop saca? Kkk, fase que foi fundamental em minha formação, onde pude conhecer tudo que estava ao meu alcance, sempre que podia.
E quando você descobriu que queria trabalhar e fazer parte do movimento Hip Hop..?
R: Quando vi que o “movimento” proporcionava uma outra via de acesso saca? Até então não tinha visto nada que eu me encaixasse ou me enxergasse enquanto sujeito mano, enxerguei no Hip Hop a deixa pra eu me expressar e me fazer ser ouvido e parte de algo que não me excluía por completo entendeu? Foi assim que visualizei o Hip Hop no início, um Mundo Novo, e a partir daí os trabalhos seguem sendo feitos.
Fale um Sobre o Coletivo Caos do Subúrbio e de seus projetos?
R: O Caos do Subúrbio é toda a faculdade. O que faço hoje é a extensão do Coletivo que fundei no início de 2000 com o Eliabe Caos. Todo o processo foi consolidado no disco “Canibais do Novo Tempo”, foi como descobrir o caminho das pedras para que agora tivéssemos a “facilidade” de saber onde ir e como fazer a parada acontecer ta ligado?
Estamos no processo de finalização do próximo disco do Caos, as faixas já estão gravadas e sendo mixadas e tratadas pelo monstro do Le Dread lá no Kafofu Records. Podem aguardar as novidades ainda para este ano. Então, neste intervalo lancei o disco e estamos ai trabalhando outras frentes.
CAOS DO SUBURBIO - O Show
Como Ouvinte e Atuante no rap, como ele Influencia em sua vida e no seu dia a dia ..?
R: O RAP ainda é pra mim a voz dos excluídos. Tenho essa certeza comigo. Ainda que hoje nos vejamos aí como a grande participação de uma “classe média” atuante. (Talvez, descompromissada), produzindo dentro do gênero, esta é a música que ouço em casa, com minha família, amigos e praticamente tudo que faço, seja trabalhando, estudando ou viajando, é ouvindo rap mano, é definitivamente meu combustível pra reflexão e luta.
O Hip Hop e o Rap são definitivamente a primeira voz que me disse quem eu sou e o que eu posso ser e alcançar, sem precisar me fazer de outrem para ter dignidade, e falo de dignidade porque é o que buscamos diariamente, dignidade pra viver, desfrutar da humanidade que ainda nos resta certo mano.
O que lhe Inspira em suas Composições Mano ..?
R: Mano o que me inspira é a realidade em que vivo, sou um cara que como muitos estão ai lutando todo dia pra sobreviver, então, minhas rimas versam sobre isso, a luta minha e de meus contemporâneos entende?
O povo aqui neste país sofre muito e ainda assim, segue em frente aos trancos e barrancos, mesmo sabendo que há um sistema político e econômico racista, sectarista e elitista saca, que os afunda cada vez mais no limbo social. Afirma sua luta diariamente nas ruas, nos becos, nas grandes multinacionais, nas grandes periferias, nas escolas de controle, e hospitais bolsões. Essa realidade é minha maior fonte de inspiração mano, sem dúvida alguma.
Gegê Caos - Melhores Dias
Quando você escuta o Nome RAP .. qual a primeira coisa que vem em sua mente ..?
R: Vida.
O Rap Brasileiro vem passando por uma transição,talvez transformação,perca de identidade ou evolução como a maioria diz, tem uma porra de fãs de rap que estão descendo a madeira em rappers que vão na TV,ou lança letras sem muita ideologia, artistas como Emicida,Projota,Flora Matos,Terra Preta recebem muita critica e hoje em dia rappers como Edi Rock e Mano Brown também vem sendo criticado por supostamente ter mudado o discurso..
A pergunta é...  o rap não pode ir na Tv ou falar de outras fitas alem da Revolução ..?
R: Mano quando comecei a entender que o RAP também tem códigos de controle e também é um jogo, nos vários aspectos que a palavra condiz, enxerguei que muita coisa é blefe saca? Creio que esses artistas ai têm sua corrente de pensamento, assim como em 1990, existiam várias correntes políticas, ou não, de atuação. Não descarto possibilidade nenhuma. O RAP é vasto nos seus vários aspectos mano, e é esse o problema de muita gente não compreender o meio em que está atuando.
O RAP sempre esteve na TV tio, é só fazer uma breve análise mano. A MTV, a TV Cultura, a Globo, A TV Bandeirantes sempre noticiaram o Hip Hop de alguma forma. O RAP também sempre versou sobre vários assuntos, amor, revolução, problemas sociais, raciais e etc, o RAP é a nossa versão sobre tudo isso mano.
Em 1990, também tínhamos muita gente que só queria se divertir cantando RAP, não necessariamente tinham conteúdo político em suas letras certo? Hoje com toda a falsa facilidade que o capitalismo e a globalização oferecem em todos os cantos da cidade não seriam diferentes, as informações são acopladas e compactadas mano, ou seja, mastigadas.
Creio que temos um impasse gigante hoje, ir ou não na TV. Ao meu ver, não altera o curso dessa história saca mano, o Emicida, o Projota e Edi Rock indo lá, não altera o ritmo escravizante que vive o trabalhador mano, isso é mito.
Agora temos de saber se queremos retomar o posto de ser a música popular nas favelas e nas periferias do Brasil, porque já não somos faz tempo. Há 15 anos não tínhamos mídia nenhuma em cima de nós, e hoje? Olha o tanto de gente em cima. Mais porque não somos mais populares como éramos há 10 anos atrás? Creio que devemos na realidade pensar o que queremos em relação a isso. Qual é o único veículo de comunicação que hoje atende pelo menos 70% da população pobre e preta deste país? São os livros? São os jornais? É a internet? Não! Feliz ou infelizmente é a TV.
Na realidade não tenho uma resposta definitiva pra esta “hecatombe” dentro do movimento e das tais convicções que tenho. Ainda estou formulando um raciocínio mais preciso sobe isso, rsrs.
Pegando o gancho  ... O Rap dos anos 90 era  muito politizado ..  "Eu sou fruto desta geração.. que aprendeu..  a ter orgulho de sua etnia.. sua cor.. e de onde você veio.". Você não acha que o rap de Hoje perdeu um pouco disto ..? Você num acha que isto num futuro próximo vai refletir de um modo negativo..?
R: Não é o mesmo contexto, como vc bem disse, somos uma das últimas gerações que vivenciaram esse momento.
É fato que o discurso mudou, só que as facilidades também alteraram parte deste curso mano, nossa época foi marcada por muito pouco acesso, hoje a molecada em 1 hora baixa os 3 vídeos pornôs mais top da sessão tio, pensa isso?
Hoje se eu quero saber sobre Malcolm x, não preciso sair de casa para colar num sebo e tentar achar o livro como fazíamos antigamente, hoje o muleque baixa o e-book da parada em 3 minutos.
São vários fatores que poderiam justificar tal desvinculação saca, mais não perdemos o tempo mano, não creio que us mlks que estão fazendo RAP hoje estejam inseridos, são os mesmos mlks pretos como nós mano, morando em lugares distantes, com escolas zuadas, hospitais fudidos e transportes pra gado e o que aumentou e muito na parada foi o ópio que esta quase invisível a nossa retina.
O futuro creio eu, que já chegou aqui, e não vejo ele nem positivo e nem negativo saca, as bases do Hip Hop mudaram muito também, hoje tem grana no meio mano, é a utopia do século nos assolando tio, e grana como sabemos, dita regras.
Hoje toda nossa formação esta para ser repassada pra poucos, e estes poucos não consigo lhe afirmar se vão ter equilíbrio pra lhe dar com as miragens que os senhores modernos apresentam tio.
Gegê Caos - Clã do Sol 
Saindo um Pouco do Rap Você que Existe um Movimento Negro no Brasil ..?
R: Mano existe movimento preto desde que morreram vários lá na África tentando não ser capturados pra não serem escravizados pelo homem branco tio, essa é a minha visão sobre a parada, todo preto que se levanta ou se levantou contra a injustiça da desigualdade e da opressão, pra mim é movimento preto.
No Brasil, estamos ai desde que atravessamos o atlântico, agora, se a pergunta fosse se existe um movimento preto organizado? A resposta com certeza seria diferente, infelizmente temos muitos grupos organizados entre si, mais uma única frente mobilizada e organizada, definitivamente não.
No Brasil boa parte da população é miscigenada e nossas governantes e a mídia vende que vivemos numa democracia racial,étnica,Social e Religiosa.. Será realmente que vivemos assim..? onde todos respeitam a todos..?
R: Bom, vivemos num Estado laico e ainda assim, quem não é cristão é obrigado na escola saber intrinsecamente a história dos cristãos, sem que esse mesmo espaço seja compartilhado para as outras religiões no ensinamento desta parte da história. Só por aqui já podemos ter a certeza das mentiras e mitos que o país e seus pensadores, construíram.
A mestiçagem no país foi um projeto político e devemos entender que nada neste país se apresenta aleatoriamente mano. Logo, essa ideia de democracia racial é pra inglês vê, assim como as leis que deveriam ser aplicadas a favor do povo preto, dos povos nativos e etc. Nada que é para ser para o povo é! Os beneficiados, sabemos quem são, não sou eu, nem você e nem nossos manos.
Respeito aqui é sinônimo de individualismo tio, ele nasceu com o estabelecimento da propriedade privada.
Digamos que Presidente no Brasil Realmente Manda .. e você fosse eleito, qual seria seu Primeiro Ato ..?
R: Acabar com o Governo.
Voltando ao Rap Falemos Sobre seu Álbum "Di Gegê pra Jejês" quais temas aborda neste álbum..?
R: Religiosidade Africana, ancestralidade, luta, revolução, amor, liberdade, busca, conceitos, fé, possibilidade e muitos outros temas eu abordo neste disco, quem tiver tempo e a possibilidade de ouvir confira. Só posso assegurar que todos os versos desse disco têm como característica meu coração nelas. Sem maquiagem, nem personalismo e heroísmo barato.
Você é formado em História pela PUC e também rapper um trabalho Influencia no outro.? se sim como..?
R: Mano antes de ir pra PUC já tínhamos as nossas leituras bem vivas em nosso cotidiano, lá só foi o tempo pra aprimorarmos e agregarmos mais leituras pra alcançar mais conhecimento, dentre os vários assuntos que a História propõe, seja ela oficial ou não saca.
Quando comecei escrever meus primeiros raps já estava convicto que estava fazendo, contando e recontando determinadas histórias, a micro história saca, a que não está nos autos oficiais desta mesma história.
Um Mc naturalmente é um historiador de seu tempo, tenho essa convicção.
Já sofreu algum tipo de preconceito por isto..? por ser um rapper e Historiador..
Pelo contrário, só me soma pra desenrolar “lá e Cá” tendeu? Antes de ser um acadêmico, sou um homem que caminha nas ruas mano, e cheguei até lá através da aprendizagem primeira nas ruas, não o contrário.
Qual a relação da militância com o Rap e como ele conseguiu sintetizar toda essa questão na formulação desse disco, composição das letras, etc?
R: Mano, reforço a questão geracional. Nós que pegamos ainda a década de 1990, essencialmente tínhamos o caráter militante pra participar da parada, tínhamos de ter algum motivo rebelde exposto e internalizado, senão estaríamos no modismo. Como disse, todo esse período foi de formação militante, pra que hoje, posso até decidir se quiser, se desvincular dessa corrente entende? Será impossível o RAP daqui a 100 anos, ao meu ver, ser considerada música popular, porque não é essa a essência.
Invariavelmente, não consigo compor sem ser militante, até minhas composições mais abstratas, ou que falam de vários assuntos, tem a essência militante mano. Logo mais estarei compilando um trabalho com o Ricardo Móck e vários outros parceiros que propõe versar sobre o “Feminino”, no que diz respeito ao gênero, e todas as composições também tem o caráter militante. Como disse o RAP é a nossa versão dos fatos, até quando falamos de amor (sem ser este conceito de amor Burguês, autoritário e de posse) é a nossa versão, rudimentar e real, que vai de encontro a tudo que prende.
Depois deste Álbum tem algum Projeto em vista..?
R: Como já disse estou já em processo de finalização de um projeto com o Ricardo Móck e em breve estará ai nas pistas, e será outra proposta, e muitos tenho certeza, irão se surpreender.
O disco do Caos do Subúrbio esta pronto também logo estará também nas pitas.
Eu e o Luiz Preto também temos um projeto em andamento que chama Vanguarda Palmares, que virá propor justamente a reflexão e o debate sobre as leis que vigoram no país a respeito da população preta e pobre. Leis como a 10.639, Lei Caó, Afonso Arinos e etc., inclusive já tem disponível pra download uma música do projeto que se chama ‘10639’ procurem lá...
Tenho outro projeto em vista mais só pro ano que vem, pois pretendo trabalhar bastante o disco Di Gegê Pra Jejês. E estou tendo a oportunidade gravar com outros mcs de peso nos estúdios mocados por ai em SP e também no Rio, logo mais vocês terão novidades..rs
Para terminar deixa alguma indicação de Leitura para os Leitores ..
R: Recentemente adquiri e fiz a leitura do livro Malcolm x - Uma Vida de Reinvenções do historiador Manning Marable, é um autor que versa sobre a vida e as faces que o personagem Malcolm produziu em vida. Quem puder adquiri-lo não irá se arrepender.
Outra leitura importante que sempre faço é o Almas da Gente Negra de W.E.B Du Bois. Esse livro é uma pérola mano, sem dúvida um dos meus favoritos.
Putz! Poderíamos ficar em vários kkkk, Filho Nativo, O local da Cultura aff,  mais estes ai já são um bom começo né? kk

Obrigado pela Entrevista mano .. Deixe seu salve, sua mensagem pra rapa..

Façam o que têm que fazer, não seja escravo.
Axé pra tod@s.
Gegê Caos
Gegê Caos - Di Gegês pra Jejês (Álbum Completo)

Ouça todas as faixas do álbum Gegê Caos - Di Gegês pra Jejês
apoio: Blog Macacos Me Mordam




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