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O.N.F.K | Amiri: “É sobre autoamor, é sobre autoconfiança, é sobre autoestima”



Aqui estou eu mais uma vez depois de fazer aquele café bem preto pra escurecer as ideias e assimilar esta obra de arte africana em diáspora do Amiri. 

Na noite de quinta (28/11) o rapper fez uma audição do O.N.F.K gratuita no Rap Burguer, onde colou muita gente para ouvir o álbum. Vou até deixar o link de algumas fotos porque foi algo bem foda, receber fãs para audição de um álbum e não só jornalistas é bem inclusivo, afinal são eles quem realmente vão ouvir e sentir o álbum. 



Algumas horas depois passou da meia noite (29/11), eis que sai nas principais plataformas digitais O.N.F.K. 

O.N.F.K é todo produzido por Deryck Cabrera e a única participação do álbum é da Lilly B na faixa "Não mete o louco".

Este álbum salvou minha sexta-feira, pois foi dia de Black Friday, eu sabia que o dia ia ser longo estressante e cansativo. 
Eu fiquei sexta, sábado, domingo, segunda ouvindo e provavelmente vou estar ouvindo no decorrer deste texto. 

Esse álbum é muito denso, tenso, dramático, pesado, mas com momentos de descontração quando o rapper resolve soltar suas puchlines mostrando o porque ele é um dos melhores mc’s da cena, seja por sua métrica na escrita ou por sua interpretação. 

Primeiramente quero deixar explícito que são impressões minhas e talvez não seja a visão do Amiri, certo? vocês podem ter tido outra impressão e comentar sobre, aliás. E eu não vou comentar sobre todas as faixas pra não ficar muito cansativo. 

Vamos ao álbum! 

Amiri sempre que possível insere diálogos nas letras, isso nos faz criar uma imagem (clipe) na cabeça de acordo com o decorrer do som. 

Mas vamos começar pela intro que parece não dizer nada, mas ao mesmo tempo diz muita coisa! Entenda. 

Antes de eu saber o significado de O.N.F.K, ouvindo atentamente a intro, ela soa como um escravo fugindo para sua liberdade. 

Daí perguntei para dois parças (Bruno Godinho e Barão U) no Facebook se eles sabiam. 
E graças a Yah perguntei para as pessoas certas, que me mostram uma postagem do Amiri sobre. 

Melhor do que eu explicar vou reproduzir o que o Amiri disse sobre: 

“Nesse meu recomeço, musiquei um pouco do que aprendi sobre amor através da ancestralidade e sobre a reconquista de força e confiança através do amor próprio. "Odo Nniew Fie Kwan", do sistema de escrita filosófica de Gana, Adinkra, significa "O amor nunca perde seu caminho de casa". Esse capítulo é sobre o poder do amor mesmo." 
O.N.F.K- Odo Nniew Fie Kwan (O amor nunca perde seu caminho de casa) começa com uma Intro com sons de tambores e um grito (canto) que soa como um prenuncio de uma ação de fuga. 

No decorrer da trama (som), do ritmo do tambor se ouve canto de passarinhos e passos e até uma possível luta que leva a passos rápidos e a uma corrida. O personagem dá uma cuspida, como se botasse sangue pra fora resultado de sua luta com seu algoz. 
No fim o personagem dá um suspiro de alivio que soa como se não estivesse em perigo. E o Amiri diz: Brigado Mamãe; e o álbum começa e já engata a “Não Mete o Louco (O rei)”. 

Observação: recomendo que ouça essa intro de olhos fechados. 

Na intro já demonstra que ele começa respeitando nossa ancestralidade, que é a de resistência, liberdade e respeito as nossas matriarcas. 
  • NÃO METE O LOUCO
“Não Mete o Louco”, o Amiri gasta demais nas rimas e puchlines, céloko! 

O Amiri colocas vários de seus complexos do passado neste som e mostrou que hoje está bem resolvido e que sua autoestima está bem, obrigado. 
Na escola eles me tirava de burro
Me zoavam de "Saci", de "Bongô"
Hoje eles que não entende nada, pai
Eu vou tão fundo nas ideias que eu quase escrevi esse aqui em Nihongo
Eu roubo a cena, não adianta fazer seguro
Faço o Rap Genius parecer anta, parecer burro 
Tem uma pá de gente que diz que não gosta do Amiri porque não entende suas rimas. Mas isso se deve à falta de paciência em sentar e ouvir com calma. 

Neste verso o Amiri mostra que superou o preconceito e o racismo sofrido no tempo de colégio. E que hoje aquele moleque sem autoestima, hoje é bonito e inteligente a ponto deles nem entender mais suas ideias de tão profundas que são. 

Num som mais à frente o Amiri fala sobre que no tempo de escola ele não era considerado bonito. 

Precisamos entender, que o homem e a mulher negra não são considerados bonitos na infância, pois tanto meninos como meninas, sempre acham bonito o galã de novelas ou aquelas atrizes loiras capa de revista. Negros e Negras só passam a ser visto como bonitos quando seus corpos esculturais mostram toda sua beleza de ébano. Na verdade, são hiper-sensualizados, essa é a real. 

Por isso o Amiri termina a primeira parte do som dizendo: 

“Imagina o MC mais bonito calando quem diz que preto é feio, pronto, agora 'cê tem uma foto minha” 
Basicamente o som de fala de uma parte da vida do Amiri que eu acredito que sejam traumas e complexos de sua juventude. Porque o Amiri está a todo momento mostrando confiança e autoestima no seu talento e intelecto e ao mesmo tempo nos dando referências de experiencias passadas. 

“Essa é a história do Amiri, não, é só o índice
Sendo modesto, pois significa príncipe
Que eles não vira, nem se elas beijar vinte sapo
Percebi que eu tô pra mais rei dessa fita, fim de papo!” 
  • PANTERA PRETA
Este som é uma ode a força da mulher preta e respeito a cultura matriarcal africana. Mas a trama é contada de uma forma trágica, pois ele trata do genocídio do povo preto no brasil fazendo referência ao tempo da escravidão. 

Lembrando que a Pantera em diversas culturas é um símbolo feminino de força, inclusive na HQ do Pantera Negra, a Pantera, a deusa Bast é retratada como feminina. 

Bast aparece recorrentemente nos quadrinhos do herói, e no Egito era adorada como a deusa da proteção ou da guerra, dependendo de sua representação. 

O Amiri começa o som questionando porque homens pretos são a maioria dos mortos pela polícia e em seguida ele fala para o policial largar a mãe dele, mas de fundo tem um grito: África! Com isso, entendo que está fazendo uma ligação com o tráfico negreiro. 

Porque o senhor atirou em mim? Não confundiu nada, apenas mirou e fim É porque das senzalas, quilombos e guetos vim É porque sou preto, sim E vim de onde tinha migalhas, não tinha pães Vinha jato, vinha cães Viatura, arma em punho, tira as mãos da minha mãe (África) A minha mãe (África) A minha mãe (África) E eu não vim sozinho, vim com os Deuses, vim com Iansã e Sangô Minha mãe, sangrou, filho arrancado a força Nem tinha estourado a bolsa Minha mãe, se chamou Tereza de Benguela Nem grilhão e nem cela Prende eu, sou que nem ela Minha mãe mandou força ancestral e nada mata ela Pantera preta, esse é o peso de cada pata dela Por mim nada trata ela, igual lata velha Ela é Maria, Afenia, Angela, Assata, Armélia E eu Huey! Huey, huey, huey 
*Huey Newton, líder e um dos fundadores do Black Panther Party (Partido dos Panteras Preta) 

Depois de puchlines no melhor estilo freestyleiro, sons introspectivos, anti-racista/ódio a branquitude, depressivo e superação, o rapper paulista alivia o clima com o som "Eu deixo um salve” 
  • EU DEIXO UM SALVE
Como disse lá no começo, o Amiri tem um tipo de escrita em que ele cria e insere diálogos no meio do som. Mas este som é todo em diálogos, o Amiri interpreta diferentes personagens neste som. 
Os diálogos criado pelo Amiri são basicamente coisas que ele ouve num rolê tipo: cobrança de sons novo, tretas aleatórias, abordagem constrangedora e e tal. 
O som é bem clima de festa, quando eu fecho os olhos e imagino um clipe na minha cabeça ele seria assim: O Amiri está num rolê que poderia até ser um show dele, e as coisas vão acontecendo e tal e o Amiri além de fazer o seu papel, ele interpretaria todos personagens que ele já interpreta no som e na refrão eu já imagino os pretos e as pretas mandando uns passinhos e tal. 

  • UM AMOR (ODARA)
E não pense que o Amiri não ia falar de amor, afinal amor está no nome do álbum. 
Depois do clima de festa, ele lança a braba, o lovesong chamado “Um Amor (Odara) 

Este som é uma linda declaração de amor, e um grande som para exaltar o amor entre pessoas pretas. 

Recentemente ouvindo o som “Muito tempo é pouco" da Indy Naise eu escrevi: “Em tempos de auto ódio por culpa do colonialismo, claro. Cantar sobre amor e afeto preto é um ato mais que político. É um resgate de nossa autoestima em meio ao caos dessa diáspora que nos odeia e faz com que nós nos odiemos” 

Isso que eu escrevi vai muito de encontro com esse som e com o enredo do álbum. 

Pois se você ouviu o álbum e se atentou na faixa “Não mete o louco", o Amiri já entrega o enredo do álbum. Se liga. 

No fim da música ele diz: “É sobre autoamor, é sobre autoconfiança, é sobre autoestima” 
Odara é o que sinto é lindo, me sinto tão ninguém sem você
Esse amor sara mais um pouco, não quero nenhum outro eu só penso em você
Eu só penso em você, penso em você
Eu só penso em você, penso em você 
Na cultura Hindu Odara significa paz e tranquilidade, no candomblé, Odara é um tipo de EXU, que significa infinito, que não tem começo nem fim. Existe diversos tipos de Exu, Odara é um exu bom, um exu guia, que mostra o caminho para as pessoas, que vai na frente. 

Em todas as faixas o Amiri trata de todos estes temas: se amar, ser confiante e saber que você é bonito, capaz, bom no que você se propõe a fazer. Eu não vejo como arrogância, mas como um fortalecimento, pois, pelo menos você tem que acreditar em você e se amar, para poder estar bem para enfrentar os vermes racistas, o sistema e praticar amor entre os nossos. 

Espero que tenham gostado e ouçam O.N.F.K- Odo Nniew Fie Kwan (O amor nunca perde seu caminho de casa) nas principais plataformas digitais

Ouça no Youtube:



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