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A comédia também fala a língua da quebrada

Da esquerda pra direita: Niny Magalhães, Felipe Kot, Douglas Zoio, Bruna Braga, Big Jaum e Guilherme Junior

A cultura do Stand-Up neste formato em que nós conhecemos, que é a comédia de cara limpa, no Estados Unidos é algo mais antigo e popular. Se você já assistiu ao seriado “Todo Mundo Odeia o Chris” (que se passa nos anos 80), certeza que vai lembrar do episódio em que o Chris descobre que seus pais ouviam os discos do Richard Pryor, que foi um dos maiores comediantes de todos os tempos no Estados Unidos. Richard Pryor é uma das maiores referencias do Chris Rock, que também é comediante.

Foto: Richard Pryor

Já no Brasil, é algo um pouco recente que por muito tempo ficou bem restrito aos boy que já tinham o costume de ir a barzinhos no centro de São Paulo, na zona sul do Rio de Janeiro ou em Curitiba. Inclusive os comediantes também eram em sua maioria e esmagadoramente brancos de classe média e isso por anos moldou o modo de fazer stand-up, pelo menos aqui no eixo Rio x São Paulo x Curitiba. Isso falando desse formato moderno de Stand-Up, porque Jô Soares, Chico Anisio e José Vasconcellos, já faziam stand-up.

Com a quebrada conseguindo acesso à internet, Youtube e Facebook em plena ascensão, alguns comediantes apostaram em por pequenos trechos de seus shows nessas plataformas para quem sabe atrair mais público para suas apresentações. O primeiro show de Stand-up nesta fita de conversar com a quebrada em que eu lembro, não foi o Thiago Ventura, mas sim o Robson Nunes com seu show “Afro-Bege”, onde num determinado momento ele imita o Mano Brown e faz seu show falando a linguagem da quebrada. 

O Robson Nunes é gente da gente, oriundo da zona sul de São Paulo, Robson ficou bastante conhecido por fazer a novela Teen Malhação e depois ingressar na área de humor, apresentador do Disney Channel e por último interpretando o Tim Maia. Muitos creditam ao Thiago como o pioneiro, pelo fato dele não imitar um personagem, mas sim fazer um humor de cara limpa, porém acho valido citar o Robson, pois em seu show “Afrobege”, usando personagem ou não, ele já usava uma linguagem de quebrada e não depreciava a gente.

Porém o que de fato apostou em fazer um conteúdo um pouco mais completo e pôr no Youtube e Facebook foi o Thiago Ventura com seu vídeo contando do tempo em que ele e seus parças soltavam Pipa. Se vocês foram no Youtube, vão ver que os vídeos do Robson ou de outros comediantes da época são gravados por pessoas da plateia. A fita de gravar pedaço dos shows, é algo da geração do Thaigo Ventura. Após esse vídeo ter viralizado, ele viu que a quebrada se identificava e ele não precisaria mais fazer piadas pra agradar só os boy, ele poderia fazer e falar como ele fala com seus amigos de infância.

Ele sem querer mostrou pra uma pah de comediante que não precisava fazer um tipo de comedia engessada e genérica. Depois do Thiago Ventura vieram vários comediantes fazendo um humor de identificação, o que fez mais gente de quebrada querer fazer comédia e também pessoas de quebrada começar a consumir conteúdos de comedia e ir a teatros, barzinhos e estabelecimentos de comédia. 

O que fez aumentar o número de pessoas de quebrada começarem a consumir essa galera, é que ela se vê representada e não ridicularizada como ela sempre foi. As piadas sobre ser pobre eram bem estereotipadas e até preconceituosas. Falavam do cheiro, cabelo, cor de pele e por aí vai. 

Com aumento significativo de comediantes vindo de quebrada, a periferia consumindo muita essa cultura, a comédia começou a ser feita na quebrada. Pra quem é de São Paulo está ligado que independentemente se você mora numa quebrada da zona sul, norte, leste, oeste ou alguma cidade periférica da região metropolitana, uma ida ao centro é de no mínimo duas horas para ir e duas para voltar. Por isso essa fita de ter locais de comédia na quebrada além de fortalecer o comercio do bairro, cria uma identificação e o público ficar mais à vontade, já que não vai sofrer nenhum tipo de discriminação. 

Graja Beer Pub no Grajau, zona sul de São Paulo, organiza apresentações quinzenais de stand-up. No palco está comediante mineiro Fred Silva. Rubens Cavallari/Folhapress


O Guia da Folha de São Paulo fez uma matéria sobre Stand-Up nas Quebradas.

E eles entrevistaram Flávio Silva e Nani Gomes, um casal que mora no Jardim Eliane, bairro vizinho ao Grajaú, zona sul de SP e eles acreditam que é um movimento revolucionário assistir um show de stand-up na quebrada.

“Ver um ambiente como esse ao lado de casa é muito gratificante. Dá vontade de apoiar o negócio local”, diz Flavio. “A maioria das pessoas que vem no 'Graja' é negra. Além de serem da minha cor, todos aqui têm a mesma vivência periférica que eu tenho. Esse sentimento deixa a noite mais agradável”, completa Nani.

Em entrevista ao Jairo Motta (Guia Folha), Yuri Marçal diz que o público de quebrada quando vai num show de outro que também é de quebrada ele não quer apenas rir, mas ele quer se identificar. “Ele festeja contigo, comemora as piadas e vibra com você. Quem é de favela e faz show na favela, entende perfeitamente o que eu estou falando.”, comenta o Yuri.

A fita é que essa leva de humoristas falam de coisas que a gente passa, sobre coisas que só quem é de quebrada ou negro vive e tal. É um tipo de humor que identificação.

Além do carioca Yuri Marçal, quem vem dessa leva de humorista de quebrada, temos a brasiliense Niny Magalhães, Felipe Kot de Taboão da Serra, Bruna Braga de SP, Léo Ferreira de Mauá, Jordan Matheus de Salvador, Guilherme Junior da Baixada Santista, Felipe Ferreira e Big Jaum, que são Carioca, Douglas Zoio de Guarulhos, a Zete Brito de São Paulo, Thiago PHZ, SP e muitos outros.

Abaixo você confere algumas apresentações do comediantes citados e outros:





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